O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, apresentou neste domingo à nação seu plano de paz para o leste separatista, que prevê um diálogo com os rebeldes pró-russos sem envolvimento em atos "de assassinato ou tortura", a fim de restaurar a integridade do país. O discurso televisado de 12 minutos acontece após a entrada em vigor de um cessar-fogo declarado por Kiev para permitir que os rebeldes entreguem suas armas. Contudo, os combates entre o Exército e os rebeldes, que já fizeram 375 mortos, continuam com a mesma intensidade.
'O plano de paz, nosso plano A'
Em seu discurso, o presidente Poroshenko, que tomou posse no dia 7 de junho apoiado por líderes ocidentais, afirma que o "ambiente pacífico é o nosso palco principal. É o nosso plano A". Mas advertiu que "aqueles que pretendem utilizar estas negociações de paz com o único objetivo de ganhar tempo e reunir suas forças devem saber que nós temos um plano B. Não irei detalhá-lo agora, porque eu acho que o nosso plano pacífico vencerá", acrescentou.
Pouco antes, um líder rebelde considerou que os esforços de Poroshenko eram "insignificantes", enquanto não incluísse a retirada das tropas ucranianas do leste e um reconhecimento de sua independência. "Alguns pontos de vista totalmente opostos não serão uma barreira para a participação nas negociações. Estou disposto a conversar com aqueles extraviados que optaram por posições separatistas. Exceto, é claro, aqueles que se envolveram em atos de terrorismo, assassinato ou tortura", declarou o presidente.
'Linguagem dos argumentos'
"Eu garanto a segurança para todos os participantes nas negociações, para todos aqueles que quiserem adotar a linguagem dos argumentos e não a linguagem das armas", assegurou Poroshenko. Este plano de paz foi revelado há alguns dias no site de uma televisão local. Ele, contudo, não fazia menção a um diálogo com os separatistas, fazendo referência apenas a uma anistia para "aqueles que depuserem suas armas e que não cometeram nenhum crime grave".
Em Siversk, uma localidade de 3.000 habitantes a oeste de Slaviansk, um dos redutos separatistas, o anúncio de cessar-fogo produziu pouco efeito junto aos rebeldes, que prosseguem os combates contra as autoridades de Kiev. "Nós vamos persistir. Meus dois avôs foram mortos na Segunda Guerra Mundial. Eles lutaram contra o nazismo. Eu continuo o combate", afirmou Andreï, de 31 anos. O plano de paz inclui a criação de uma zona tampão de 10 km ao longo da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia e um corredor para os mercenários russos, que lhes permita voltar à Rússia após entregarem suas armas.
Também prevê o fim da "ocupação ilegal" dos edifícios da Administração Regional de Donetsk e Lugansk, controladas pelos rebeldes, a rápida organização de eleições locais e um programa para a criação de emprego na região. Também se refere à descentralização do poder e à proteção da língua russa por meio de emendas à Constituição. Paralelamente a esses esforços, Kiev e seus aliados ocidentais estão preocupados com a presença de novas forças russas ao longo da fronteira. Os Estados Unidos acusaram Moscou de armar os rebeldes e advertiram para o envio de qualquer tropa à Ucrânia.
O presidente da Rússia enviou no sábado mensagens contraditórias às autoridades ucranianas, colocando suas forças armadas em estado de alerta e, em seguida, oferecendo apoio ao plano de paz de Poroshenko. Um porta-voz do Conselho ucraniano de Segurança e Defesa, Volodymyr Tchepovii, disse neste domingo que nenhum equipamento militar cruzou a fronteira nos últimos dois dias.