Soldados e civis, homens, mulheres, crianças, sindicalistas, artistas e cientistas deixaram de lado suas diferenças políticas para garantir a unidade nacional e a militarização da economia.
Veja a retrospectiva da guerra no infográfico
"Nada poderá romper a união sagrada da Pátria francesa frente ao inimigo", proclama o então presidente francês, Raymond Poincaré, em 4 de agosto de 1914. "Não conheço mais partidos, só conheço alemães", disse o Kaiser Guilherme II, enquanto na Grã-Bretanha falava-se em "party truce", ou trégua partidária.
Na França, o fervor nacional foi particularmente poderoso no início da guerra, e até pacifistas como os socialistas Marcel Sembat e Jules Guesde apoiaram o governo. Em todos os países, foram votados orçamentos de guerra sem dificuldades, e as escassas vozes pacifistas eram inaudíveis. Esse quadro se manteve assim até pelo menos 1917, quando o desgaste de um sangrento conflito sem fim e o exemplo da Revolução Russa começaram a alimentar greves e motins, abalando as unidades nacionais.
Todos os beligerantes - principalmente França e Alemanha - mobilizaram suas energias no esforço de guerra.
Mobilização total para o armamento
As economias se organizam para responder às necessidades das Forças Armadas, em uma adaptação que é acompanhada do reforço considerável do papel do Estado e, às vezes, no caso dos impérios centrais, do controle militar sobre os recursos disponíveis. Tudo passa a ser organizado para garantir a produção de armamentos e de munições.
Para o historiador francês Jean-Yves Le Naour, o conflito foi "a primeira guerra industrial". O Estado, afirma Le Naour, "assume o domínio da produção, ao distribuir os pedidos e as exportações, controlando as margens de lucro das empresas e a comercialização dos bens de consumo corrente". A mobilização da economia traz como consequência sua racionalização e o "taylorismo", com o surgimento das linhas de montagem nas fábricas.
Na Alemanha, a militarização é ainda mais significativa.
Mulheres na linha de frente
As mulheres devem substituir "no campo aqueles que estão na frente (de batalha)". E o país também necessitará delas na indústria, nos cargos administrativos e nas escolas. Surge a figura da operária encarregada de fabricar munições - sempre recebendo um pagamento inferior ao dos homens. Ocorre uma feminização da mão de obra, e se começa a ver mulheres de cabelo curto, de calça comprida e fumando. "Deixei um cordeiro e, quando voltei, era uma leoa", teria dito um soldado, ao retornar da guerra.
A mobilização patriótica não poupa nem mesmo as crianças. Nesse período, "os deveres escolares", conta o historiador francês André Loez, "consistem em redigir elogios para os soldados, ou calcular a produção de morteiros". Os temas de redação podiam ser sobre a "bandeira ferida", ou "uma carta a um soldado na frente", exemplifica Jean-Yves Le Naour.
A propaganda e a censura militar estão onipresentes. O comando alemão dirige a "instrução patriótica" das tropas, enquanto os aliados tentam seduzir e angariar o apoio das diferentes nacionalidades do Império Austro-Húngaro. Em todos os países, uma enorme produção de imagens - cartazes, charges e cartões postais - lembra a população, o tempo todo, da valentia dos soldados, das atrocidades cometidas pelo inimigo e do dever de se participar do esforço de guerra.
Intelectuais mobilizados
Apenas alguns poucos se rebelam contra essa mobilização geral, entre eles o jornal satírico francês "Le Canard Enchaîné", fundado em 1915, que critica a manipulação nacionalista. Nem mesmo os sindicalistas, os intelectuais e os cientistas escapam dessa febre que toma conta da Europa.
O filósofo francês Henri Bergson apresenta a guerra como uma luta "da civilização contra a barbárie". Algum tempo depois, 93 intelectuais alemães rebatem a declaração de Bergson para defender a posição de seu país, com um apelo ao "mundo civilizado".
Químicos, físicos, biólogos e médicos colocam suas competências a serviço do governo, seja para a fabricação de novas armas, seja para a produção dos meios de se proteger delas.
Do lado sindical, a luta de classes é sacrificada pela guerra - pelo menos no início do conflito.
Os católicos franceses cerraram fileiras em nome da defesa da Pátria, atrás da República "ateia" que até há pouco atacavam. Na Alemanha, a religião também se soma à causa nacional, e os soldados levam a frase "Gott mit uns" (Deus conosco, em português) na fivela de seus cintos.
O Vaticano tenta impedir a matança daqueles que acreditam em um mesmo Deus, mas o apelo pela paz feito por Bento XV, em dezembro de 1914, cai no vazio. O furor das armas acabará por varrer o continente..