Moscou e os europeus representados por Berlim e Paris, tentaram nesta segunda-feira pressionar Kiev a prolongar o cessar-fogo no leste separatista, mas o presidente ucraniano ainda não respondeu a esse apelo que poderia descontentar a opinião pública de seu país.
Após consultas telefônicas entre Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, Vladimir Putin pediu um prolongamento da trégua, enquanto, segundo a Presidência francesa, o presidente russo e seu homólogo ucraniano Petro Poroshenko concordaram em trabalhar juntos para obter um cessar-fogo bilateral. Quase três horas depois do fim desta conversa, Kiev mantém o silêncio sobre esta questão crucial.
Em um breve comunicado, a Presidência ucraniana anunciou que Poroshenko havia informado a seus interlocutores sobre a situação nas regiões rebeldes de Donetsk e Lugansk, e ressaltou que, "infelizmente, os pontos de acordo atingidos durante a conversa anterior não foram respeitados".
Poroshenko enfrenta tanto as pressões russas e ocidentais quanto as da opinião pública, que parece favorável à retomada das operações militares contra os separatistas e acredita que a suspensão dos combates permite aos rebeldes receber reforços da Rússia. Para satisfazer esta última, ele deve ser capaz de apresentar uma perspectiva realista de um fim rápido para o conflito em que os ucranianos se sentem humilhados por separatistas bem armados e treinados.
As conversas desta segunda-feira parecem ter feito algum progresso neste sentido, mas os acordos estabelecidos ainda precisam ser concretizados.
Controle da fronteira
Com isso, segundo Paris, os presidentes russo e ucraniano também concordaram em "trabalhar junto com a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) na "instauração rápida de um mecanismo efetivo de controle da fronteira" e o "na manutenção das libertações dos reféns e dos prisioneiros dos dois lados, com base nas listas de nomes apresentadas".
Segundo um porta-voz de Angela Merkel, o presidente Putin se disse pronto a "autorizar o acesso dos guardas de fronteira ucranianos ao território russo", uma indicação confirmada pelo chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov. "Na fronteira russo-ucraniana, eles devem controlar com os seus colegas russos os locais onde os separatistas do lado ucraniano ocupam postos de fronteira", acrescentou.
Isso pode parecer insuficiente para os ucranianos, que gostariam de retomar rapidamente o controle total de sua fronteira. O "grupo de contato", que inclui um ex-presidente ucraniano, o embaixador russo em Kiev e membros da OSCE, deve se reunir nesta segunda "para tentar chegar a um acordo sobre a implementação desses pontos". Os chefes das diplomacias russa e ucraniana também devem discutir essa questão.
De acordo com o Kremlin, o presidente russo ressaltou "a importância de estender o cessar-fogo", enquanto todos os "líderes falaram sobre a organização urgente de uma terceira rodada de consultas entre os representantes de Kiev" e os insurgentes, segundo o comunicado.
Um líder separatista de Donetsk, Andrei Purhin, disse à agência de notícias russa Interfax que tais discussões poderiam acontecer na terça-feira, em primeiro lugar por uma troca das listas de prisioneiros. Segundo ele, as forças de Kiev mantêm em seu poder "mais de 190" militantes separatistas.
Sabotadores
O cessar-fogo declarado por Kiev há dez dias e, posteriormente, aceito pelos rebeldes, foi sistematicamente violado durante combates esporádicos.
Nesta segunda-feira, algumas horas antes do fim do cessar-fogo, Kiev anunciou a prisão de cinco "sabotadores" que se preparavam para explodir um comboio que transportava equipamento militar na região de Kharkiv (leste). Os homens, todos ucranianos de Kharkiv, foram pegos em flagrante", disse à AFP um porta-voz local do SBU, os serviços especiais ucranianos, Vladyslav Abdula.
Eles estavam trabalhando "sob as ordens diretas" de um líder separatista local, Igor Bezler, conhecido como "Bies" ("demônio" em ucraniano), da região de Donetsk, mais especificamente da cidade de Gorlovka. De acordo com o SBU, Bezler foi identificado como um cidadão russo que recebeu formação militar em uma unidade de inteligência.