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Estado de Minas

Primeira sessão do Parlamento iraquiano termina em meio ao caos

Brigas internas e fraqueza contra insurgentes podem dificultar a indicação do presidente Maliki para um terceiro mandato


postado em 01/07/2014 14:22 / atualizado em 01/07/2014 15:38

Deputados iraquianos trocam acusações em sessão do parlamento(foto: REUTERS/Thaier Al-Sudani)
Deputados iraquianos trocam acusações em sessão do parlamento (foto: REUTERS/Thaier Al-Sudani)

O Parlamento iraquiano teve nesta terça-feira sua primeira sessão em meio a uma desordem generalizada depois de não conseguir iniciar o processo de formação de um governo, essencial para acabar com a ofensiva jihadista que ameaça o país.

A reunião foi marcada por trocas de acusações de curdos e sunitas contra o governo do primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, presente na sala. Maliki tem cada vez menos chances de concorrer a um terceiro mandato diante do avanço dos insurgentes liderados pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI) e o fracasso de seu Exército.

A Constituição estabelece que os deputados devem eleger no primeiro dia de sessão o chefe do Parlamento, o primeiro passo no processo de formação de um governo. O caos reinava durante a sessão, ilustrando as profundas divisões que minam o Iraque, no momento em que a unidade das diferentes comunidades e religiões é mais importante do que nunca para evitar um colapso do país.

As últimas declarações do presidente da região autônoma do Curdistão iraquiano, Massud Barzani, também acentuaram os receios de uma divisão, tendo este anunciado a organização de um referendo sobre a independência da região curda nos próximos meses.

'Vamos esmagar suas cabeças'

Durante a sessão, a parlamentar curda Najiba Najib exigiu que o governo de Maliki transfira os recursos devidos ao Curdistão. Kazem al-Sayadi, um deputado do bloco de Maliki, respondeu: "Massud Barzani é um traidor e um agente. Quer exportar petróleo para Israel. Vamos esmagar suas cabeças e vamos mostrar o que vamos fazer depois de a crise terminar". Os deputados sunitas saíram da sala quando o Estado Islâmico foi mencionado. A situação tornou-se caótica e a reunião foi encerrada.

O enviado da ONU Nickolay Mladenov denunciou a atitude dos parlamentares, afirmando que "os políticos no Iraque deveriam compreender que o país não está vivendo uma situação normal". Apelando pela eleição do presidente do Parlamento na próxima sessão, prevista para 8 de julho, Mladenov afirmou que "todo atraso em relação ao prazo fixado pela Consituição acontecerá em detrimento da integridado do país".

Depois da eleição do presidente do Parlamento, os deputados elegerão um presidente da República. Caberá a este último escolher o candidato do bloco parlamentar que venceu a votação para formar um governo, no caso o de Maliki. Mas, de acordo com um diplomata ocidental, mesmo dentro de sua coalizão xiita, discute-se a possibilidade de substituí-lo após dois mandatos consecutivos.

Enfraquecido pelo fracasso de seu Exército frente a ofensiva dos insurgentes, Maliki, no poder desde 2006, é acusado há meses por seus detratores de concentrar o poder e de conduzir uma política de discriminação contra os sunitas. Dessa forma, mesmo que as regiões de maioria sunita não tenham recebido de braços abertos os insurgentes, também não têm dado apoio ao Exército, incapaz de conter o avanço dos jihadistas nos primeiros dias da ofensiva lançada em 9 de junho.

Nesta terça-feira, depois de o EI proclamar no domingo um "califado" nos territórios conquistados entre a cidade de Aleppo (norte da Síria) e a província de Diyala (leste iraquiano), os jihadistas assumiram o controle de Albu Kamal, importante cidade síria na fronteira com o Iraque, depois de três dias de confrontos contra combatentes rivais.

"O Estado Islâmico tomou o controle de Albu Kamal na (província rica em petróleo de) Deir Ezzor, depois de violentos confrontos contra rebeldes apoiados pela Frente Al-Nusra, filiada à Al-Qaeda", segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Omar Abu Leyla, porta-voz dos rebeldes da província de Deir Ezzor, declarou à AFP que "a luta foi feroz... mas o EI venceu essa partida", após receber reforços do Iraque.

Meio bilhão de dólares sauditas

Para ajudar o governo iraquiano, Moscou forneceu cinco aviões Sukhoi que sobrevoavam o país nesta terça-feira, enquanto Washington mobilizou quase 800 homens -300 conselheiros militares e 500 soldados para proteger a embaixada e o aeroporto de Bagdá. Os Estados Unidos, que descartaram o envio de tropas terrestres, prometeram 36 caças-bombardeiros F-16, que podem atrasar devido à situação de insegurança.

Já a Arábia Saudita anunciou nesta terça-feira uma ajuda humanitária de 500 milhões de dólares para o povo iraquiano. Esta ajuda, decidida pelo rei Abdullah, será desembolsada por meio de agências da ONU, de acordo com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores saudita em um comunicado publicado pela agência oficial Spa. "A ajuda beneficiará o povo iraquiano irmão, afetado pelos recentes acontecimentos dolorosos, incluindo os refugiados, independente de sua confissão religiosa ou étnica", afirmou o porta-voz.

A situação humanitária no Iraque é alarmante. Mais de um milhão de pessoas fugiram desde o início do ano e, segundo várias organizações humanitárias, é difícil ter acesso a elas.


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