Jornal Estado de Minas

Tomada de Slaviansk reduz possibilidade de trégua com separatistas no leste da Ucrânia

A maioria dos analistas considera que o presidente Poroshenko, eleito há um mês, precisava desesperadamente de um êxito militar para garantir a confiança dos ucranianos

AFP

Barricada na Praça da Independência em Kiev, em foto deste domingo (6): otimismo após a vitória militar em Slaviansk aumentou a pressão sobre Poroshenko para que não volte a aceitar uma nova trégua com os insurgentes - Foto: DOMINIQUE FAGET / AFP


O exército ucraniano prosseguia neste domingo com sua ofensiva contra os insurgentes pró-russos, depois de ter se apoderado no sábado de um de seus redutos, uma vitória que reduz as esperanças de um cessar-fogo com os separatistas. O presidente ucraniano, o pró-ocidental Petro Poroshenko, disse que a reconquista de Slaviansk, reduto separatista pró-russo do leste do país retomado pelo exército ucraniano no sábado, é um "ponto de virada" no conflito.

Os rebeldes admitiram que sofreram muitas baixas durante a retirada desta cidade estratégica do leste da Ucrânia que havia sido tomada por eles há quase três meses. A maioria dos analistas considera que Poroshenko, que chegou à presidência há um mês, precisava desesperadamente de um êxito militar para garantir a confiança dos ucranianos, que acompanhavam a impotência do exército contra o que consideram uma agressão da Rússia. "Não é uma vitória total e não há tempo para fogos de artifício", declarou o presidente de 48 anos em um discurso na televisão pública.


Poroshenko também declarou que agora os insurgentes estão se reagrupando ao redor de outro de seus redutos, a cidade industrial de Donetsk, mas prometeu desalojar os "terroristas que estão se entrincheirando nas grandes cidades". Um líder dos rebeldes na região de Donbas anunciou a tomada das cidades de Druzhkivka e Kostantynivka, ao sul de Slaviansk. Também pediu que seus moradores não saiam às ruas durante a noite porque poderia ser perigoso.

Rússia busca a trégua

O otimismo após a vitória militar de Kiev em Slaviansk aumentou a pressão sobre Poroshenko para que não volte a aceitar uma nova trégua com os insurgentes, como querem os países ocidentais. Após o fim de um cessar-fogo de dez dias na segunda-feira, Poroshenko denunciou que os rebeldes não haviam respeitado a trégua e que 20 soldados perderam a vida. Tanto Washington quanto Kiev garantiram inclusive que os insurgentes aproveitaram o cessar-fogo decretado por Kiev para receber novas armas pesadas procedentes da Rússia.

Poroshenko convidou os líderes separatistas, a Rússia e a OSCE a se reunir para discutir um novo cessar-fogo no sábado.

Mas nem Moscou, nem os rebeldes responderam a este chamado, embora, após a queda de Slaviansk, tenham declarado que estavam dispostos a negociar. O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, ressaltou diante de seus colegas da França e da Alemanha a importância de "alcançar um acordo entre Kiev e as regiões do sudeste da Ucrânia e um cessar-fogo incondicional e definitivo".

Os rebeldes se reagrupam

A retirada de Slaviansk foi liderada pelo ex-comandante militar Igor Strelkov, acusado por Kiev de pertencer ao serviço de informação militar russo GRU. Os países ocidentais consideram que Moscou está apoiando em segredo os rebeldes tanto para punir o novo governo pró-europeu de Kiev, eleito em fevereiro, quanto para manter sob controle as regiões de língua russa do leste da Ucrânia. O líder rebelde Strelkov criticou no sábado o presidente russo Vladimir Putin no Twitter por não cumprir com sua promessa de proteger com todos os meios disponíveis seus compatriotas na Ucrânia.

No entanto, pouco depois afirmou em uma televisão russa que estava ocupado organizando uma contraofensiva que ele mesmo irá dirigir. "Pretendo criar um conselho militar central que (...) ajudará a coordenar a defesa da República Popular de Donetsk e de parte da de Lugansk", referindo-se às regiões autoproclamadas independentes no leste da Ucrânia.

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