As ruas da Cidade de Gaza estão desertas. Os drones (aviões não tripulados) sobrevoam o enclave palestino de modo intensivo, os caças F-16 surgem do nada e lançam mísseis e bombas. O som das explosões é sucedido pelo das sirenes de ambulâncias. Enquanto isso, israelenses de Tel Aviv e de Jerusalém, além de cidades mais ao Sul, precisam controlar o pânico a cada vez que escutam as sirenes antiaéreas – sinal de que foguetes lançados de Gaza estão prestes a impactar o solo. Os cidadãos têm 15 segundos para se proteger, antes da explosão. Ao menos 350 projéteis foram disparados contra Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, avisou que a Operação Cerca de Proteção deve se expandir para outras fases e descartou que um cessar-fogo esteja sobre a mesa. Fontes israelenses admitiram que a segunda etapa da campanha incluiria a incursão de tropas em Gaza para desarticular a infraestrutura militar do grupo islâmico Hamas.
“A campanha segue como planejamos, mas esperamos outros estágios. Se civis inocentes estão sendo feridos, é porque o Hamas deliberadamente se esconde atrás de cidadãos palestinos”, afirmou Netanyahu, de acordo com o jornal Haaretz. O primeiro-ministro revelou que os bombardeios vão prosseguir “até que os disparos sobre nossas comunidades sejam encerrados e a tranquilidade retorne”. Apesar do apelo das potências por uma trégua, Israel teme que a medida conceda tempo para o Hamas se rearmar. No fim da manhã, em reunião do Conselho de Segurança da ONU, o secretário-geral Ban Ki-moon pediu cessar-fogo imediato. “É mais urgente do que nunca tentarmos chegar a um entendimento para um retorno à calma e um acordo de cessar-fogo”, disse, ao recomendar o “máximo de contenção”.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, telefonou para Netanyahu e “expressou seu temor diante do risco de uma escalada”, de acordo com um comunicado da Casa Branca. “Os EUA se mantêm dispostos a mediar negociações pelo fim das hostilidades, incluindo um retorno ao acordo de cessar-fogo de novembro de 2012”, indicou a nota. Obama determinou ao secretário de Estado, John Kerry, que conversasse ontem com Netanyahu e com o líder palestino, Mahmoud Abbas.
LINHA VERMELHA Rafael Eldad, embaixador de Israel no Brasil, afirmou que o Hamas ultrapassou uma linha vermelha. “Não sabemos quanto tempo a Operação Cerca Protetora vai durar. Não me parece que será curta”, disse. “A única coisa que desejamos é viver em paz. Queremos poder trabalhar, mandar as crianças para a escola, sair para fazer compras.
Para Ibrahim Mohammed Khalil Alzeben, embaixador da Autoridade Nacional Palestina, Israel deseja o território palestino livre de árabes. “É uma limpeza étnica, um genocídio. Querem limpar a Faixa de Gaza ecriar um grande Estado de Israel”, desabafou, por telefone. Ele instou a comunidade internacional a obrigar Netanyahu a respeitar o direito internacional. “Quando Israel sequestra todo um povo, o mundo exorta a calma. Quando há um atentado contra Israel, todos se levantam, como se o sangue palestino não tivesse valor”, ironizou.
Na Região Oeste da Cidade de Gaza, a estudante palestina Farah Baker, de 16 anos, enfrenta uma “semana horrível e apavorante”. “Moro perto do Hospital Al-Shifa, o maior de Gaza. Na noite passada, os israelenses bombardearam como nunca.