"Anatoli, venha por aqui, há muitos".
O avião caiu na quinta-feira, provavelmente atingido por um míssil terra-ar. Testemunhas afirmam que a aeronave se partiu em pleno voo.
Os destroços do avião se espalharam por vários quilômetros quadrados na zona rural, nos arredores do povoado de Grabove, no leste da Ucrânia, perto da linha de frente entre separatistas pró-russos e forças governamentais.
Sob uma chuva fina, as equipes de resgate preparam o recolhimento dos corpos das 298 pessoas que viajavam na aeronave.
Uma dúzia de caminhões do corpo de bombeiros está estacionado perto das duas barracas que abrigam o quartel-general dos serviços de resgate.
No entanto, mais de 12 horas após a catástrofe dezenas de corpos e restos humanos continuam espalhados pela zona.
Um jogo de cartas e um guia turístico lembram que muitas famílias viajavam de férias. Um braço aparece em um assento que jaz em um buraco. Perto dali, os socorristas reúnem as malas e bolsas.
A algumas centenas de metros do local, em outro ponto de impacto, uma asa cheia de querosene incendiou completamente um campo.
Também é possível observar dois reatores retorcidos, uma parte do trem de pouso e pedaços da fuselagem com fileiras de janelas.
A devastação é total, o metal se fundiu e voltou a se solidificar sem forma no chão. Ali, quase não se veem restos humanos entre as ruínas enegrecidas pelo incêndio.
Ao longe, os cachorros estão presos. Os poucos combatentes separatistas que se encontram no local se propõem a atirar em qualquer animal que se aproxime dos restos humanos.
Os insurgentes, conscientes de que são responsabilizados pela catástrofe, desmentem ter qualquer ligação com ela e se comprometem a proteger a região e facilitar o acesso aos investigadores.
Trégua
Os separatistas pró-russos também propuseram uma trégua com fins humanitários, mas na manhã desta sexta-feira ainda eram ouvidas explosões esporádicas no local.
Segundo os socorristas, uma caixa-preta foi encontrada.
Os habitantes da aldeia próxima ao local da catástrofe não se aproximaram, ainda comovidos pelo ocorrido.
"Olhe! É como se um edifício de três andares tenha estado prestes a cair em cima de nós", disse Pavel, um agricultor de 45 anos que ainda não acredita no que ocorreu.
"Estou comovido, não esquecerei nunca disso, estivemos prestes a morrer. Percebe como tem cheiro de morte?", pergunta enquanto aponta para um grande pedaço de fuselagem a uma centena de metros de sua casa.
Funcionários do ministério das Situações de Emergência passam por ali com outros pedaços de madeira embaixo do braço.
"Nunca encontraremos todos, estão em um perímetro de 25 quilômetros", sussurra um oficial dos bombeiros a um de seus homens.
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