Os líderes palestinos e a Liga Árabe acusaram neste domingo Israel de cometer um "massacre atroz" no bairro de Shajaya, na periferia leste da cidade de Gaza, deixando dezenas de mortos no 13º dia de operações no enclave palestino.
Segundo os serviços de emergência, ao menos 62 pessoas foram mortas e mais de 200 ficaram feridas nesses bombardeios, os mais mortais desde o conflito de 2008-2009.
Em Shajaya, um jornalista da AFP descreveu cenas de carnificina e caos, como um homem que teve a cabeça arrancada. As ruas estavam cheias de carros queimados, incluindo uma ambulância, e vários corpos continuam a ser retirados dos escombros sem cessar.
"O bombardeio brutal e a ofensiva terrestre em Shajaya são crimes de guerra contra civis palestinos e representam uma escalada perigosa que poderá ter sérias consequências", denunciou a Liga Árabe.
O governo palestino também condenou "de maneira firme o massacre atroz cometido pelas forças de ocupação israelenses contra os civis inocentes de Shajaya", chamando a comunidade internacional a "reagir imediatamente contra este crime de guerra".
Obstinação do Hamas
Frente ao número alarmante de mortos, o Exército israelense justificou sua ofensiva contra este bairro localizado perto da fronteira.
"Shajaya é uma área civil, onde o Hamas tem posicionado seus foguetes, os seus túneis, centros de comando", afirmou o Exército, ressaltando que "há dias temos avisado os civis de Shajaya para que deixem o local".
Uma frágil trégua humanitária, intermediada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), para evacuar de Shajaya os mortos e feridos foi rompida de forma intermitente. Finalmente, o Exército israelense anunciou estender o cessar-fogo às 14h30 GMT (11h30 no horário de Brasília).
O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou por sua vez que o movimento islâmico Hamas recusou na semana passada uma proposta de cessar-fogo, e ele está "obstinado a atrair a fúria" de Israel.
No total, a ofensiva israelense fez ao menos 425 mortos e 3.000 feridos palestinos, em sua maioria civis, apesar dos repetidos apelos da comunidade internacional para a contenção.
A ONU em Gaza indicou por sua vez que acomoda mais de 63.000 deslocados, mais do que durante o conflito de 2008-2009 que teve 1.400 palestinos mortos.
Intensificação
O Exército de Israel anunciou a intensificação de sua ofensiva terrestre, lançada na quinta-feira, para neutralizar os disparos de foguetes e os túneis subterrâneos do movimento palestino.
Este conflito, o mais sangrento desde 2009 no enclave palestino sob cerco há anos, é o quarto entre o Hamas e Israel em menos de uma década.
O Exército de Israel reconheceu a morte de cinco de seus soldados, a maioria durante um confronto no sábado contra um comando palestino que se infiltrou em Israel por um túnel, enquanto 55 outros ficaram feridos.
O ministro das Finanças israelense, Naftali Bennett, declarou à rádio pública que os túneis escavados pelo Hamas tinham a intenção de "atacar simultaneamente de sete a oito kibutz" (aldeias cooperativas), afirmando que Israel estava "pronto para pagar um preço terrível para evitar que civis israelenses sejam vítimas desta catástrofe".
O Exército de Israel informou ainda a morte de 70 "terroristas" desde quinta-feira e treze túneis descobertos. Além disso, cerca de 60 foguetes atingiram Israel no sábado.
Estratégia de saída
Na esperança de obter um cessar-fogo, Abbas deve se reunir em Doha neste domingo com o líder exilado do Hamas, que exige o levantamento completo do bloqueio a Faixa de Gaza, a abertura da fronteira de Rafah com o Egito e a libertação de prisioneiros. Uma proposta egípcia para um cessar-fogo havia sido rejeitada pelo movimento islâmico palestino.
Na frente diplomática, Ban Ki-moon era esperado neste domingo na região. Durante uma breve visita a Israel, o chefe da diplomacia francesa Laurent Fabius salientou a "prioridade absoluta" para se chegar a uma trégua.
A imprensa israelense ainda apoia em grande parte a ofensiva, mas alguns títulos questionam se o governo estava verdadeiramente preparado para todos os cenários.
"Precisamos de coragem, precisamos de um verdadeiro compromisso físico, frontal, real (...) Sim, isso fará com que tenhamos perdas do nosso lado", insistiu Ben Caspit no jornal Maariv "é de sua responsabilidade chegar lá", diz ele a Netanyahu.
Segundo Nahum Barnea ao Yedioth Ahronoth, o governo ainda pondera se deve avançar ainda mais sobre Gaza ou se deve limitar suas operações: "A questão de uma estratégia de saída tem sido objeto de intermináveis discussões que ainda não resultaram numa decisão real".
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