Jornal Estado de Minas

Manifestações pró-palestinas na França: governo criticado defende sua estratégia

AFP

A presidência francesa rejeitou neste domingo parte crítica da esquerda e da oposição por sua proibição de manifestações pró-palestinas em Paris, que têm acontecido apesar das advertências e que degenerou em horas de confrontos entre a polícia e jovens.

Bandeiras israelenses queimadas por grupos de jovens, confrontos com a polícia, gás lacrimogêneo em resposta às pedras e garrafas: Barbès, um bairro popular no norte de Paris, onde vive uma grande comunidade de origem do norte da África, acordou ao som dos serviços de limpeza retirando os detritos do dia anterior.

Somente a França proibiu manifestações de apoio aos palestinos em Gaza, uma medida sem precedentes na Europa.

O presidente François Hollande, criticado pela esquerda por sua política considerada muito pró-Israel, justificou a proibição pelo medo de "perturbação à ordem pública" e para impedir a expressão de slogans ou atos antissemitas na ruas de Paris.

Milhares de manifestantes responderam ao chamado de um partido de esquerda e de grupos pró-palestinos. Mas as provocações de alguns manifestantes contra a polícia foram suficientes para degenerar o evento. No total, dezessete membros das forças anti-distúrbios ficaram feridos e 44 pessoas foram presas.

Vozes da oposição de direita foram rápidos em apontar o "erro" do governo, argumentando que a proibição tinha sido, de acordo com o deputado de centro-direita Yves Jégo, uma forma de "provocação".

O NPA (Novo Partido Anti-Capitalista), único partido a convocar manifestações, sentiu os excessos inevitáveis "dada a presença da polícia e do desejo do governo de silenciar qualquer oposição ao seu apoio à guerra travada pelo Estado de Israel".

Mesmo dentro da maioria governamental, vozes se levantaram. "A proibição serviu para nutrir um certo radicalismo", disse à AFP o socialista Razzy Hammadi. Esta proibição "foi de fato uma provocação e manipulação", com o apoio do Partido da Esquerda (esquerda radical).

A polêmica foi alimentada em particular pela realização no sábado de vários protestos em diferentes províncias que não resultaram em qualquer incidente grave.

Domingo à tarde, centenas de simpatizantes pró-palestinos se reuniram em Sarcelles, uma cidade nos subúrbios de Paris, onde vivem grandes comunidades judaicas e árabes, apesar da proibição de manifestações que prossegue.

Durante a dispersão, alguns dos jovens manifestantes correram para a cidade, derrubando latas de lixo e postes de iluminação. Dois carros foram incendiados e muitos outros tiveram suas janelas quebradas.

'Antissemitismo de uma forma nova'

Diante da controvérsia crescente, o primeiro-ministro defendeu a decisão de seu ministro do Interior.

"O que aconteceu ontem, em Paris, é um comportamento inaceitável, justifica ainda mais a escolha que foi feita (...) para proibir manifestações", disse, denunciando "o antissemitismo em uma nova forma, que está se espalhando na internet, com uma juventude muitas vezes sem referência, que esconde seu ódio aos judeus por trás de uma antissionismo de fachada".

Condecorando os caçadores de nazistas Beate e Serge Klarsfeld, o presidente François Hollande afirmou seu desejo "de impedir qualquer ato (...) que possa trazer de volta o antissemitismo e o racismo".

Em 13 de julho, uma manifestação de apoio aos palestinos resultou em confrontos entre manifestantes e ativistas do grupo radical judeu JDL nas proximidades de duas sinagogas de Paris.

Questionado pela AFP, um policial defendeu a estratégia da polícia: "Um dos objetivos era evitar confrontos comunais e não houve nenhum".

Desde o início do segundo Intifada em 2000, cada solavanco do conflito israelense-palestino tem repercussões na França.

Estas questões, sob o pano de fundo da crise econômica, da ascensão do "comunitarismo" e da liberação de um discurso de ódio nas redes sociais, ajudam a cristalizar as fraturas da sociedade francesa. Apesar de tudo, a maioria dos membros da comunidade muçulmana (entre 3,5 milhões e 5 milhões de pessoas) e judaica (500 mil pessoas) vivem tranquilamente, distantes do conflito israelense-palestino.

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