Dezenas de corpos foram encontrados neste sábado entre os escombros na Faixa de Gaza, durante uma breve trégua entre Israel e o Hamas, ausentes, no entanto, de uma reunião internacional em Paris para buscar uma trégua duradoura.
Durante o encontro, no qual estavam presentes os chefes da diplomacia de França, Estados Unidos, Catar, Turquia e de outros países europeus, foi feito um apelo pela prolongação do cessar-fogo em vigor, segundo o francês Laurent Fabius.
Ao menos 985 palestinos morreram e 6.000 ficaram feridos desde o lançamento, no dia 8 de julho, da operação israelense "Barreira de Proteção" contra a Faixa de Gaza, controlada pelo movimento islamita Hamas. Do lado israelense, 37 soldados morreram, além de dois civis e um trabalhador estrangeiro. O cessar-fogo de doze horas começou às 05h00 GMT (02h00 de Brasília).
Muitos palestinos aproveitaram o breve respiro para voltar aos seus bairros devastados, onde os cadáveres e os escombros se acumulavam. Equipes de resgate e jornalistas descreviam cenas de desolação: casas que desabaram, corpos enegrecidos entre as ruínas e poças de sangue sobre as marcas dos tanques israelenses. Após cinco horas de trégua, ao menos 85 corpos haviam sido encontrados entre os escombros, segundo as equipes de resgate locais.
No setor de Beit Hanun, correspondentes da AFP viram o corpo de um socorrista da Cruz Vermelha em um hospital em parte destruído por um ataque israelense. Hamas desaconselhou os deslocados pelo conflito - mais de 160.000, segundo a ONU - a se aproximar dos imóveis bombardeados e das zonas de combate pela possível presença de artefatos.
O exército israelense também recomendou que os habitantes não voltassem as suas casas neste minúsculo território onde cerca de 1,8 milhão de pessoas vivem na miséria.
Esforços diplomáticos
A reunião de Paris foi realizada depois que o secretário de Estado americano, John Kerry, não conseguiu na sexta-feira no Cairo arrancar uma trégua mais duradoura. Junto ao americano, o ministro egípcio das Relações Exteriores, Sameh Shukri, disse que os beligerantes "não demonstraram vontade suficiente para negociar". Mas Kerry mostrou-se menos pessimista e declarou que, apesar das divergências entre ambas as partes em relação à terminologia, havia um "marco geral" para um acordo. "O que se discute é uma trégua humanitária de sete dias para permitir que todas as partes negociem no Cairo", havia explicado antes à AFP uma autoridade ligada ao presidente palestino, Mahmud Abbas.Israel fixou como missão de seu exército, mobilizado no solo da Faixa de Gaza desde 17 de julho, a destruição do arsenal do Hamas e de sua aliada Jihad Islâmica, sobretudo os foguetes que mataram dois israelenses e um trabalhador agrícola tailandês.
Outra prioridade da operação: os túneis utilizados pelo Hamas para realizar ataques em Israel. O exército advertiu que prosseguirá suas operações contra os túneis durante a trégua deste sábado. O ministro israelense da Defesa, Moshe Yaalon, convocou na sexta-feira seus soldados a estar preparados para "uma extensão significativa das operações terrestres em Gaza". O Hamas, que rejeitou na semana passada um projeto de acordo elaborado pelo Egito, também tem exigências: a principal é um compromisso de Israel para suspender o bloqueio que asfixia desde 2006 a economia do enclave.
Antes do início da trégua, 20 palestinos, 16 deles membros de uma mesma família, incluindo mulheres e crianças, morreram em um ataque aéreo de Israel contra Khan Yunes (sul), segundo fontes locais. Dois soldados israelenses morreram em combate, elevando o total a 37, as perdas israelenses mais importantes desde a guerra em 2006 contra o movimento xiita libanês Hezbollah. O exército afirma, por sua vez, ter matado 240 combatentes do Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
O conflito em Gaza, o quarto desde que o exército israelense se retirou deste território, em 2005, também atinge a Cisjordânia ocupada, palco de violentos combates. As tropas israelenses mataram na noite de sexta-feira dois palestinos, de 16 e 18 anos, durante protestos. Em 24 horas, uma dezena de palestinos morreram na Cisjordânia.