Mais de cem corpos foram contabilizados em diferentes necrotérios de Gaza nesta terça-feira depois da violenta ofensiva do exército israelense contra o território, o que eleva para mais de 1.170 o número de palestinos mortos em 22 dias de conflito, segundo fontes locais. Os disparos da artilharia israelense se intensificaram a partir da noite de segunda-feira, principalmente no campo de Bureij (centro) e Jabaliya (norte).
A ofensiva israelense, lançada no dia 8 de julho em resposta a disparos de foguetes do movimento islamita Hamas de Gaza, matou em sua grande maioria civis, incluindo 230 crianças, segundo a Unicef.
Do lado israelense, três civis e 53 soldados morreram nas três semanas de confrontos, o número de baixas militares mais alto desde a guerra contra o Líbano de 2006
MORTEIROS O Exército israelense insistiu que morteiros do movimento fundamentalista islâmico Hamas atingiram os dois alvos, mas militantes citados pela TV Al-Jazeera disseram ter coletado estilhaços que comprovariam a origem israelense da munição. “Terroristas em Gaza dispararam foguetes contra Israel. Um deles atingiu o Hospital Al-Shifa e o outro o campo de refugiados de Al-Shati”, publicou as IDF em seu perfil no Twitter. Segundo Israel, mais de 200 morteiros disparados de Gaza caíram no território palestino desde o início da operação Margem Protetora, em 8 de julho.
Foguetes lançados por palestinos contra o Conselho Regional de Eshkol, na fronteira com o enclave palestino, mataram quatro soldados israelenses – em um primeiro momento, foi divulgado que as vítimas eram civis. Combatentes do Hamas usaram um túnel para invadir a vila de Nahal Oz, na manhã de ontem. Segundo relatos, cinco militantes teriam sido mortos. O Hamas anunciou ter matado 10 soldados inimigos. Israel confirmou a morte de cinco militares ontem, o que eleva para 48 o total de baixas militares. O número é o mais expressivo desde a guerra contra o Hezbollah libanês em 2006, quando 121 soldados morreram. Desde 8 de julho, 1.092 palestinos foram mortos – na madrugada de hoje, sete pessoas, incluindo cinco mulheres e uma criança, não resistiram a um bombardeio contra a cidade de Rafah.
IRRITAÇÃO O secretário de Estado americano, John Kerry, que tentou articular um cessar-fogo na última semana, foi alvo de críticas israelenses. “É um amigo de Israel, mas com amigos assim é preferível, às vezes, negociar com inimigos”, ironizou o editorialista do jornal Yediot Aharonot, Nahum Barnéa. Descontentes com a proposta de Kerry, autoridades e jornalistas classificaram o documento apresentado por ele de “pró-Hamas”.
“Simplesmente não é a forma como aliados tratam um ao outro”, rebateu a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki. A conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice, reforçou o posicionamento, dizendo que o governo Obama ficou “consternado” com as distorções sobre o trabalho de Kerry. O episódio pode estremecer as relações do Estado judeu com os EUA.
Pedidos de um “cessar-fogo humanitário imediato e incondicional” foram reforçados durante uma reunião do Conselho de Segurança das Nações, em Nova York. A pressão irritou Netanyahu, que telefonou para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. O premiê criticou o texto que, segundo ele “relata as necessidades de um grupo de assassinos terroristas que ataca civis israelenses e não tem respostas para as necessidades de Israel”. Ban destacou que os moradores de Gaza estão cercados e não têm para onde fugir.
Kenneth Roth, diretor-geral da organização não-governamental Human Rights Watch, afirmou que Israel tem o direito a se defender dos foguetes do Hamas, "mas deve fazê-lo de modo consistente com as leis de guerra". Segundo ele, as graves violações das leis de guerra “estão por trás dos desproporcionalmente altos índices de mortes civis entre moradores de Gaza”.