O acirramento da antiga rivalidade com Moscou se junta a esse contexto para dificultar a construção de consensos multilaterais na solução de crises. Katherine Wilkens, vice-diretora do programa de estudos sobre Oriente Médio da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, acredita que está se desenhando uma “nova Guerra Fria” entre as potências ocidentais e a Rússia, à medida que o presidente Vladimir Putin “age contra todas as normas internacionais”. “Essa situação, certamente, complicará a cooperação americana com Moscou”, afirma. Katherine observa que as duas potências compartilham o interesse em trabalhar sobre questões como o programa nuclear iraniano, ainda em negociação. Mas ressalta que o governo russo está “mais imprevisível do que em qualquer momento desde o fim da União Soviética”.
Dos desafios impostos por Putin desde que anexou a península ucraniana da Crimeia à propagação de crises pelo Oriente Médio, opositores cobraram de Obama uma postura mais firme.
McCormick acredita que Obama será lembrado pelos esforços para combater a proliferação nuclear –como o acordo firmado com a Rússia, em 2010, para a redução mútua dos arsenais, e o avanço nas negociações sobre o programa nuclear iraniano – e por ter retirado as tropas do Iraque e do Afeganistão. “A questão é em quais condições esses países estarão quando ele deixar a Casa Branca”, ressalta. O estado de anarquia que se instalou na Líbia, onde os EUA e os parceiros da Otan deram apoio aéreo aos rebeldes que derrubaram Muamar Kadafi, a persistência da guerra civil síria e o aumento da instabilidade no Iraque, sob a ameaça do grupo jihadista Estado Islâmico, são alguns dos elementos que podem marcar a herança de Obama.
TRANSIÇÃO Carlos Gustavo Teixeira, professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), avalia que a postura americana de distanciamento é coerente com uma mudança de paradigmas internacionais. “Washington tem perdido influência, e isso se deve a mudanças estruturais importantes dos últimos 15 anos”, aponta. Teixeira acredita que o cenário internacional caminha para um quadro de liderança difusa e suscetível a turbulências complexas. Ele acredita que o presidente americano será recordado como um chefe de Estado sem grandes marcos externos, mas que “participou da transição dos EUA de superpotência para uma potência entre outras”.
palavra de especialista
marcos de azambuja
embaixador, membro do conselho curador do cebri
Filho do desencanto
O presidente Barack Obama é filho do desencanto com as operações militares. Ele herdou um cansaço entre os americanos com uma série de conflitos longos e que não tiveram final vitorioso – como as invasões ao Iraque e ao Afeganistão, além de outras ações marginais. Eles estavam cansados, com um cenário econômico fragilizado e achando que os envolvimentos militares no Oriente Médio não davam dividendos. Outro momento desse desencanto foi a escolha de não intervir diretamente na Síria: os EUA não viram uma maneira de agir naquele cenário. Obama apostou em coisas que não aconteceram, como em uma política externa bipartidária e com apoio de alguns congressistas republicanos, que acabaram virando as costas para ele. Ele não teve condições de intervir de maneira decisiva nos países envolvidos naquilo que se chamou de Primavera Árabe – e hoje a situação nesses países não mudou muito.
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