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Estado de Minas

Nos últimos anos de mandato, Obama está às voltas com crises no Oriente Médio

Legado na política externa gera dúvidas


postado em 03/08/2014 06:00 / atualizado em 03/08/2014 07:55

Brasília – Faltando dois anos e meio para o fim do segundo mandato, a agenda internacional de Barack Obama está cercada de impasses. O presidente norte-americano vem tentando não se envolver diretamente em áreas de conflito, mas enfrenta críticas por não exercer liderança global. Washington testemunha a deterioração do cenário em regiões que foram alvo de intervenção e o surgimento de novas zonas de instabilidade. Na soma de umas e outras, sobram dúvidas sobre o legado de Obama para a política externa dos Estados Unidos.


O acirramento da antiga rivalidade com Moscou se junta a esse contexto para dificultar a construção de consensos multilaterais na solução de crises. Katherine Wilkens, vice-diretora do programa de estudos sobre Oriente Médio da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, acredita que está se desenhando uma “nova Guerra Fria” entre as potências ocidentais e a Rússia, à medida que o presidente Vladimir Putin “age contra todas as normas internacionais”. “Essa situação, certamente, complicará a cooperação americana com Moscou”, afirma. Katherine observa que as duas potências compartilham o interesse em trabalhar sobre questões como o programa nuclear iraniano, ainda em negociação. Mas ressalta que o governo russo está “mais imprevisível do que em qualquer momento desde o fim da União Soviética”.


Dos desafios impostos por Putin desde que anexou a península ucraniana da Crimeia à propagação de crises pelo Oriente Médio, opositores cobraram de Obama uma postura mais firme. Embora a opinião pública americana não apoie o envolvimento militar em conflitos, a escalada de tensão em diversos países alimenta críticas à falta de uma estratégia internacional de longo prazo. “A administração de Obama foi muito reflexiva sobre que tipo de ações toma, e isso foi recebido como sinal de fraqueza, por não ser decisivo”, observa James McCormick, especialista em política externa americana da Universidade Estadual de Iowa. “Acredito que a reputação dos EUA como líder global foi um pouco obstruída por esse ponto”, acrescenta.


McCormick acredita que Obama será lembrado pelos esforços para combater a proliferação nuclear –como o acordo firmado com a Rússia, em 2010, para a redução mútua dos arsenais, e o avanço nas negociações sobre o programa nuclear iraniano – e por ter retirado as tropas do Iraque e do Afeganistão. “A questão é em quais condições esses países estarão quando ele deixar a Casa Branca”, ressalta. O estado de anarquia que se instalou na Líbia, onde os EUA e os parceiros da Otan deram apoio aéreo aos rebeldes que derrubaram Muamar Kadafi, a persistência da guerra civil síria e o aumento da instabilidade no Iraque, sob a ameaça do grupo jihadista Estado Islâmico, são alguns dos elementos que podem marcar a herança de Obama.

TRANSIÇÃO Carlos Gustavo Teixeira, professor de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), avalia que a postura americana de distanciamento é coerente com uma mudança de paradigmas internacionais. “Washington tem perdido influência, e isso se deve a mudanças estruturais importantes dos últimos 15 anos”, aponta. Teixeira acredita que o cenário internacional caminha para um quadro de liderança difusa e suscetível a turbulências complexas. Ele acredita que o presidente americano será recordado como um chefe de Estado sem grandes marcos externos, mas que “participou da transição dos EUA de superpotência para uma potência entre outras”.

 

 

palavra de especialista

 

marcos de azambuja
embaixador, membro do conselho curador do cebri

 

Filho do desencanto 

 

O presidente Barack Obama é filho do desencanto com as operações militares. Ele herdou um cansaço entre os americanos com uma série de conflitos longos e que não tiveram final vitorioso – como as invasões ao Iraque e ao Afeganistão, além de outras ações marginais. Eles estavam cansados, com um cenário econômico fragilizado e achando que os envolvimentos militares no Oriente Médio não davam dividendos. Outro momento desse desencanto foi a escolha de não intervir diretamente na Síria: os EUA não viram uma maneira de agir naquele cenário. Obama apostou em coisas que não aconteceram, como em uma política externa bipartidária e com apoio de alguns congressistas republicanos, que acabaram virando as costas para ele. Ele não teve condições de intervir de maneira decisiva nos países envolvidos naquilo que se chamou de Primavera Árabe – e hoje a situação nesses países não mudou muito. Obama conseguiu alguns feitos, como a retirada de tropas, a derrubada de Muamar Kadafi e a neutralização de armas químicas na Síria. Não é um registro de vitórias, mas não é uma situação catastrófica. O presidente russo, Vladimir Putin, se aproveitou dessa fadiga para reafirmar certas prioridades russas e anexar a Crimeia. Até agora, ele tem agido em seu quintal, pois sabe que ninguém está disposto a enfrentá-lo ali.

 

 

 


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