Novos combates entre as forças do governo ucraniano e os separatistas pró-russos que controlam áreas do Leste do país voltaram ontem a prejudicar o trabalho de uma equipe internacional de peritos enviada à região para investigar a queda de um Boeing da Malaysia Airlines, supostamente abatido por um míssil aéreo disparado pelos rebeldes.
Impedidos de continuar a recolher fragmentos do Boeing e restos das vítimas, os 70 inspetores enviados pela Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OSCE), acompanhados de especialistas holandeses e australianos, tiveram que deixar a cidade Grabove, base das operações. Eles ouviram tiros à distância de mais ou menos 2km e se retiraram. “As coisas aconteceram suficientemente perto para que eles tomassem a decisão de sair. O impacto dos tiros era muito intenso e o chão tremia”, relatou Alexander Hug, diretor adjunto da missão da OSCE na Ucrânia.
Hug informou ainda que os separatistas autorizaram o acesso da equipe às áreas sob seu controle, mas considerou que era “muito cedo” para determinar se a retomadas das hostilidades configurava uma violação do cessar-fogo estabelecido entre as partes nas imediações do local da tragédia. A busca de corpos é considerada prioritária em relação ao levantamento de indícios sobre a causa do acidente, garantiram os cientistas holandeses que iniciaram a identificação das vítimas. Eles lembraram que o trabalho poderá durar meses.
GUERRA As investigações são dificultadas pela destruição provocada nos arredores por mais de três meses de combates.
Protesto em Moscou
Com a Rússia submetida a duras sanções dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), em represália pelo apoio que dá aos separatistas, centenas de manifestantes foram ontem às ruas de Moscou pedir ao presidente Vladimir Putin que envie tropas para a Ucrânia com a missão de proteger a população do Leste. Desde o início do conflito, em março, a ONU estima que mais de mil pessoas foram mortas. Os manifestantes pediram ajuda humanitária à região industrial ucraniana do Donbas e cantaram músicas patrióticas. “Se uma pessoa tem o poder, deve utilizá-lo para passar à ação”, afirmaram os líderes do protesto, que contou com a presença de representantes da autoproclamada República Popular de Donetsk. Pressionado entre o embargo ocidental e o apoio de parcela importante da opinião pública russa aos separatistas, Putin administra o impacto de médio prazo da crise sobre uma economia que já vinha dando sinais de estagnação. Mas, embora tenha agido prontamente para anexar a península da Crimeia, em março, atendendo aos resultados de um plebiscito declarado nulo pelos EUA e pela UE, o presidente russo não anunciou oficialmente ajuda militar direta aos separatistas do Leste ucraniano.
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