Novos combates entre as forças do governo ucraniano e os separatistas pró-russos que controlam áreas do Leste do país voltaram ontem a prejudicar o trabalho de uma equipe internacional de peritos enviada à região para investigar a queda de um Boeing da Malaysia Airlines, supostamente abatido por um míssil aéreo disparado pelos rebeldes. Sem perspectiva de uma solução negociada para o conflito, ou ao menos de um cessar-fogo estável, as autoridades de Lugansk, importante centro urbano recém-recuperado pelas tropas leais ao governo de Kiev, afirmaram que a cidade está “à beira de uma catástrofe humanitária”. A situação é semelhante em Donetsk, capital da região de mesmo nome e, atualmente, o principal reduto em poder dos separatistas – nas imediações do local da tragédia com o avião malaio, que matou as 298 pessoas a bordo em 17 de julho.
Hug informou ainda que os separatistas autorizaram o acesso da equipe às áreas sob seu controle, mas considerou que era “muito cedo” para determinar se a retomadas das hostilidades configurava uma violação do cessar-fogo estabelecido entre as partes nas imediações do local da tragédia. A busca de corpos é considerada prioritária em relação ao levantamento de indícios sobre a causa do acidente, garantiram os cientistas holandeses que iniciaram a identificação das vítimas. Eles lembraram que o trabalho poderá durar meses.
GUERRA As investigações são dificultadas pela destruição provocada nos arredores por mais de três meses de combates. “O que acontece hoje em Lugansk é uma autêntica guerra, que custou a vida de mais de 100 habitantes pacíficos”, afirmou um comunicado da prefeitura. A cidade, próxima à fronteira com a Rússia, sofre com falta de água e energia elétrica, além das dificuldades no abastecimento de alimentos.
Protesto em Moscou
Com a Rússia submetida a duras sanções dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), em represália pelo apoio que dá aos separatistas, centenas de manifestantes foram ontem às ruas de Moscou pedir ao presidente Vladimir Putin que envie tropas para a Ucrânia com a missão de proteger a população do Leste. Desde o início do conflito, em março, a ONU estima que mais de mil pessoas foram mortas. Os manifestantes pediram ajuda humanitária à região industrial ucraniana do Donbas e cantaram músicas patrióticas. “Se uma pessoa tem o poder, deve utilizá-lo para passar à ação”, afirmaram os líderes do protesto, que contou com a presença de representantes da autoproclamada República Popular de Donetsk. Pressionado entre o embargo ocidental e o apoio de parcela importante da opinião pública russa aos separatistas, Putin administra o impacto de médio prazo da crise sobre uma economia que já vinha dando sinais de estagnação. Mas, embora tenha agido prontamente para anexar a península da Crimeia, em março, atendendo aos resultados de um plebiscito declarado nulo pelos EUA e pela UE, o presidente russo não anunciou oficialmente ajuda militar direta aos separatistas do Leste ucraniano.