Jornal Estado de Minas

Novo banho de sangue em Gaza, apesar do início da retirada israelense

AFP

Israel desencadeou novamente a indignação internacional neste domingo, após um ataque que matou pelo menos dez palestinos em uma escola da ONU, no momento em que começava a retirar suas tropas da Faixa de Gaza.

A responsabilidade pelo ataque não foi formalmente estabelecida.

Mas o próprio Exército israelense reconheceu ter "atacado três terroristas da Jihad Islâmica em uma moto perto de uma escola da UNRWA em Rafah", cidade no sul do território palestino submetida desde sexta-feira a um bombardeio intensivo, e indicou que vai "(examinar) as consequências desse ataque".

No 27º dia de guerra, 71 pessoas morreram apenas em Rafah, de acordo com os serviços de emergência locais.

Os serviços de emergência palestinos também indicaram a morte de pelo menos sete pessoas, na noite deste domingo, em um ataque aéreo israelense no norte da Faixa de Gaza.

Mas o ataque contra a escola administrada pela Agência da ONU de Ajuda aos Refugiados Palestinos (UNRWA), transformada em centro de acolhida para cerca de 3.000 refugiados, foi o episódio que causou mais comoção.

Foi a terceira vez em dez dias que um ataque atingiu uma escola da ONU. Cerca de trinta palestinos já tinham morrido em bombardeios a escolas em Beit Hanoun, no dia 24 de julho, e em Jabaliya, em 31 de julho.

"Isto é um escândalo do ponto de vista moral e um ato criminoso", assim como uma "nova violação flagrante do direito humanitário internacional", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, manifestaram a sua consternação com um "bombardeio vergonhoso".

A ONU e Washington não apontaram abertamente Israel como responsável. Mas eles também ressaltaram que o Exército israelense tem muitas informações a respeito da localização dos refúgios da ONU.

Já o presidente francês, François Hollande, considerou "inadmissível" o bombardeio dessa escola e pediu que os responsáveis "respondam por seus atos".

Um correspondente da AFP testemunhou cenas de caos, com socorristas se desdobrando para retirar os feridos, enquanto moradores corriam sem direção com crianças em seus braços em meio a poças de sangue.

No necrotério, as imagens de bebês mortos ou de parentes chorando pelos nove membros da família Al-Ghul dizimada por um ataque contra a sua casa dão uma ideia do desespero da população de Rafah.

Os israelenses acusam o Hamas de usar civis como escudos humanos, e hospitais e escolas como locais de disparos de foguetes em direção a Israel.

"Esta loucura tem que acabar"

Mas "nem isso justifica ataques que colocam em risco as vidas de tantos civis inocentes", indicou o Departamento de Estado americano.

Rafah, cidade localizada na fronteira com o Egito no sul do enclave palestino, vem sendo submetida a um bombardeio intensivo depois que três soldados israelenses foram mortos na sexta-feira em combates que causaram o fracasso de um cessar-fogo aceito por Israel e Hamas. Pelo menos 200 pessoas morreram nessa região atingidas por bombas.

Segundo fontes médicas, a guerra causou a morte de cerca de 1.800 palestinos.

Do lado israelense, 64 soldados e três civis morreram.

"Esta loucura tem que acabar", disse o secretário-geral da ONU. Impotente diante da barbárie, a comunidade internacional multiplica os apelos por um cessar-fogo.

Apesar de tudo, Israel mantém a operação "Barreira Protetora", iniciada no dia 8 de julho para tentar neutralizar a capacidade militar do Hamas, destruindo principalmente os túneis que levam ao território israelense.

Mas o Exército confirmou, pela primeira vez oficialmente, neste domingo que está retirando parte de seus militares, sem indicar quantos, enquanto reposiciona outros dentro da Faixa de Gaza.

"Nós retiramos alguns, mudamos alguns (de posição) dentro (do território). Esta missão está em andamento", disse à AFP o porta-voz do Exército, Peter Lerner.

Cerca de cem tanques estavam posicionados na tarde deste domingo do lado israelense, depois de terem cruzado a fronteira de Gaza, pela qual haviam passado no outro sentido em 17 de julho, quando o Exército iniciou a fase terrestre da "Barreira Protetora".

Sem falar de retirada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, deu a entender no sábado que a operação entraria em uma nova fase, agora que o Exército já estava prestes a concluir a destruição dos túneis.

Intensificando a ofensiva

Essa parte da operação será concluída, "provavelmente, durante as próximas 24 horas", afirmou Lerner. Mas "a missão segue, ela não terminou", repetiu, afirmando logo depois: "Vamos intensificá-la".

Na noite de sábado, Netanyahu e o Hamas expressaram sua determinação de manter o combate.

Uma catástrofe humanitária assola a Faixa de Gaza, onde os 1,8 milhão de habitantes estão no meio do fogo cruzado em um pequeno território, afirmou a ONU.

A situação em Gaza se tornou "intolerável" para a população civil, disse o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond. Além do chanceler britânico, a União Europeia e a China pediram que os dois beligerantes parem de lutar imediatamente.

Mas, depois do fracasso de um cessar-fogo na sexta, Israel enviou a mensagem mais firme para deixar claro que o conflito só vai acabar quando o governo hebreu decidir, e que não haverá concessão alguma para uma organização que, segundo ele, não é digna de confiança.

Israel também decidiu não enviar representantes para negociar no Cairo, onde uma delegação palestina incluindo integrantes do Hamas entregou neste domingo ao mediador egípcio uma série de exigências para que haja um cessar-fogo, incluindo o fim do bloqueio a Gaza.

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