Autoridades nigerianas informaram nesta segunda-feira que um médico em Lagos contraiu Ebola, o segundo caso registrado na megacidade do oeste da África, região afetada pela mais letal epidemia da doença, que já matou 887 pessoas, segundo novo balanço da Organização Mundial da Saúde.
"Este novo caso é de um dos médicos que deram atendimento ao paciente liberiano com Ebola que morreu", disse a jornalistas o ministro nigeriano da Saúde, Onyebuchi Chukwu.
O liberiano morreu em Lagos no fim de julho e foi o primeiro caso mortal na Nigéria da epidemia, que desde o começo do ano afeta três países do oeste da África: Guiné, onde foi declarada, Libéria e Serra Leoa.
Segundo Chukwou, 70 outras pessoas suspeitas de terem tido contato com o liberiano estão sendo monitoradas. Destas, oito foram postas em quarentena e três apresentaram sinais "sintomáticos" da doença, afirmou.
A confirmação de que um quarto médico teria sido infectado ocorre no momento em que medo e revolta se misturam na Libéria, onde os serviços sanitários estão sobrecarregados. Os moradores da capital, Monróvia, foram às ruas protestar contra os muitos corpos abandonados pelo temor de virem a contrair o vírus.
Devido à gravidade da crise sanitária, a presidente liberiana, Ellen Johnson Sirleaf, e seu colega serra-leonês, declinaram o convite para viajar a Washington para uma cúpula entre Estados Unidos e África, esta semana, da qual participam 40 chefes de Estado.
Em Genebra, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um novo balanço nesta segunda-feira elevando o número de mortos pela epidemia a 887 e a 1.603 o de casos presumidos: 485 casos na Guiné (sendo 340 confirmados, 133 prováveis e 12 suspeitos) com 358 mortos; 468 na Libéria (129 confirmados, 234 prováveis e 105 suspeitos) com 255 motos; 646 em Serra Leoa (540 confirmados, 46 prováveis e 60 suspeitos) e 273 mortos; e 4 na Nigéria (nenhum caso confirmado, 3 prováveis e 1 suspeito) e um morto.
- O medo se espalha -
O governo liberiano têm advertido as pessoas que evitem tocar nos mortos ou em qualquer pessoa com sintomas similares aos do Ebola, como febre, vômitos, fortes dores de cabeça e musculares e, nos estágios finais, hemorragias severas.
Dezenas de pessoas bloquearam as principais vias de Monróvia, a capital da Libéria, onde barricadas surgiram depois do fim de semana, sobretudo nos subúrbios.
"Nenhum veículo é autorizado a passar por aqui enquanto o governo não vier buscar os corpos que jazem nas casas há quatro dias", declarou à AFP um manifestante, Kamara Fofana, de 56 anos, morador de Douala, subúrbio da zona oeste da cidade.
"Quatro pessoas morreram nesta comunidade. O governo diz que não devemos tocar nos corpos, então ninguém foi enterrá-los", contou Fofana. "Nós temos ligado, sem sucesso, para a linha direta do Ministério da Saúde", continuou.
Outra manifestante, Miatta Myers, relatou que sua mãe era uma das supostas vítimas da doença. "Nossa mãe estava vomitando. Tentamos ligar para o Ministério da Saúde, mas não vimos ninguém. Faz cinco dias que o corpo dela está na casa. A única forma de chamarmos a atenção do governo é bloquear a estrada", explicou.
Os bloqueios começaram nas principais rodovias durante o fim de semana e desde então apareceram em vários bairros de Monróvia.
- Vala comum -
Diante das acusações de que as autoridades deixam os cadáveres para apodrecer nas ruas e nas casas, o vice-ministro liberiano da Saúde, Tolbert Nyensuah, garantiu que o governo faz o possível e que terrenos foram comprados pelo Estado para enterrar as vítimas da epidemia.
"Enterramos 30 pessoas no fim de semana em uma vala comum nos arredores da cidade. O governo comprou terra de um cidadão particular e esta terra será usada para enterrar os corpos", afirmou Nyensuah.
Na vizinha Serra Leoa, o presidente Ernest Bai Koroma pediu que o país se una para reagir à ameaça trazida pela epidemia. "Esta é uma luta coletiva. A própria essência da nossa nação está em risco", afirmou em discurso transmitido pela TV.
As ruas da capital, Freetown, estavam vazias nesta segunda-feira, pois as pessoas obedeciam à convocação de "um dia em casa", feita pelas autoridades para ajudá-las a reorganizar a luta contra a epidemia.
Serra Leoa é o país com o maior número de casos confirmados de todos os afetados: 574, incluindo 252 mortos desde que o vírus se espalhou da vizinha Guiné, em maio.
O presidente Koroma, que declarou estado de emergência na semana passada, instou as famílias a assegurar que as vítimas sejam reportadas às autoridades sanitárias.
O médico que ficou doente na Nigéria cuidou de Patrick Sawyer, um liberiano que trabalhava para o Ministério das Finanças em seu país e que pegou o vírus da irmã antes de viajar a Lagos para uma reunião de autoridades do oeste da África.
Ele chegou a Lagos no dia 20 de julho, procedente de Monróvia, após trocar de aeronave em Lomé, capital de Togo.
Ele estava visivelmente doente ao chegar e foi levado diretamente para o hospital First Consultants, no bairro Ikoyi, área nobre de Lagos. Ele morreu enquanto estava na quarentena em 25 de julho.
O hospital fechou as portas por tempo indeterminado na semana passada.
Em meio à tragédia, uma boa notícia: o médico americano Kent Brantly, também infectado com o vírus na Libéria, "parece estar melhorando", reportaram os Centros de Controle de Doenças, em Atlanta, onde ele está sendo tratado em uma unidade de isolamento, informaram autoridades sanitárias no domingo.
Uma segunda americana, infectada com o vírus enquanto trabalhava na Libéria, deve chegar na terça-feira aos Estados Unidos.
O grupo missionário cristão SIM USA informou que Nancy Writebol, de 60 anos, se encontrava em "estado grave, porém estável".
Ela será evacuada no mesmo avião que transportou o doutor Brantly e também será levada à unidade de isolamento em Atlanta.