O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan foi eleito presidente da Turquia neste domingo no primeiro turno da eleição presidencial, com 52,1% - confirmaram os canais de televisão após a apuração de quase todos os votos. Assim que os resultados foram divulgados, Erdogan se dirigiu para a mesquita histórica Eyup Sultão de Istambul para orar, como faziam os sultões otomanos antes de subir ao trono - anunciaram as emissoras.
"Agradeço a todos aqueles que contribuíram para este resultado", declarou o novo chefe de Estado eleito, diante de milhares de partidários reunidos na frente da mesquita. "Vamos elevar o nível da nossa democracia e continuar na via do processo de paz" para uma solução do conflito curdo", acrescentou, em uma breve declaração transmitida ao vivo. "Que Deus nos ajude em nosso caminho", completou.
Segundo os resultados publicados pela imprensa turca, após 99% das cédulas apuradas, o principal candidato da oposição, Ekmelettin Ihsanoglu, obteve 38,9% dos votos, e o da minoria curda, Selahattin Demirtas, quase 9%.
Fundador da Turquia moderna
Essa vitória supõe um êxito pessoal para Erdogan, no poder desde 2003, que se soma dessa forma ao pai fundador da Turquia moderna e laica, Mustafa Kemal Atatürk, no panteão dos dirigentes mais emblemáticos do país. Obrigado a ceder a cadeira de primeiro-ministro nas eleições legislativas de 2015, Erdogan já havia expressado o desejo de manter as rédeas do país desde a presidência, um cargo fundamentalmente simbólico. O primeiro-ministro, que falhou em 2013 em sua tentativa de instaurar um regime presidencial, havia deixado claro que usaria todos os poderes a seu alcance para reformar a Constituição e "presidencializar" o governo.
"O presidente eleito e o governo eleito trabalharão lado a lado", insistiu hoje, ao votar em um colégio na parte asiática de Istambul. Como esperado, Erdogan venceu após uma campanha eleitoral marcada por seu carisma, o poder financeiro de seu partido, Justiça e Desenvolvimento (AKP), e sua influência nos meios de comunicação do país. Já Ihsanoglu conseguiu apenas transmitir a imagem de avô tranquilizador, sem se destacar. Hoje, ele denunciou a "campanha injusta e desproporcional" do rival.
O candidato dos curdos, um advogado de 41 anos dono de um sorriso fotogênico, não conseguiu somar votos além de sua comunidade, de 15 milhões de pessoas.
Acusações de despotismo
Paradoxalmente, a vitória de Erdogan é anunciada após meses difíceis. Em junho de 2013, milhões de turcos foram às ruas denunciar um giro autoritário e islamita do poder. A repressão severa a este movimento manchou a imagem do governo. Em junho de 2013, veio à tona um escândalo de corrupção sem precedentes. Erdogan denunciou, então, um complô de seu ex-aliado islamita e aprovou leis de controle da internet, gerando uma nova onda de críticas.
Ainda assim, Erdogan já havia vencido com vantagem as eleições locais de março e mantém uma grande popularidade no país. Mas seu desejo de reforçar os poderes do presidente alimentaram as críticas e os alertas de "autocracia". Por vários motivos, a principal dificuldade para Erdogan não é vencer as eleições presidenciais, e sim enfrentar o que virá depois", considerou Ziya Meral, da Universidade britânica de Cambridge. "Seu futuro político depende, em grande parte, da forma como ele poderá manter seu poder sobre o AKP", completou.