O Exército israelense indicou que nenhum foguete foi disparado a partir de Gaza e que suas forças não realizaram nenhum ataque. "Dormimos toda a noite sem ouvir um único caça", declarou entusiasmado Moataz Chalah, um morador de Gaza, que disse à AFP ter retornado ao trabalho nesta quarta-feira de manhã. Um comerciante, Attia al-Najrar, reabriu sua loja "para ver o que vai acontecer", dizendo que a situação econômica estava em seu nível mais baixo no território palestino, devastado e superlotado.
"Esta guerra foi um desastre, casas foram destruídas, campos agrícolas devastados, ficamos sem nada", resumiu, em tom amargo, Nida Chabaane.
Mas o acordo concluído na terça-feira sob os auspícios dos egípcios cria muitas esperanças. Ele prevê a abertura das passagens entre Israel e a Faixa de Gaza e uma flexibilização do bloqueio que sufoca há anos seus 1,8 milhão de habitantes.
No entanto, as questões mais sensíveis, como a libertação de prisioneiros palestinos, a abertura de um aeroporto em Gaza e a desmilitarização do enclave palestino, devem ser discutidas durante conversações agendadas no Cairo dentro de um mês.
Os líderes do Hamas, invisíveis durante a guerra, apareceram terça à noite para comemorar junto com a população a suposta vitória e garantindo aos habitantes de Gaza que em breve teriam um porto e aeroporto.
Mas nesta quarta-feira, um aliado próximo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apagou tais esperanças. "Não haverá nenhum porto, nenhum aeroporto e nada que possa servir à produção de foguetes ou escavação de túneis, esta será a posição que vamos apresentar na retomada das negociações" no Cairo, declarou o vice-ministro das Relações Exteriores, Tzahi Hanegbi, à rádio pública.
Empate
O Hamas, que infligiu as maiores perdas ao Exército israelense desde 2006, com 64 soldados mortos, está se gabando de ter derrotado "o lendário Exército israelense que se diz invencível" e obteve a flexibilização do bloqueio, uma das principais reivindicações palestinas.
Em contrapartida, do lado israelense, Liran Dan, um porta-voz de Netanyahu, proclamou à Rádio do militar que o Hamas "recebeu os golpes mais duros desde a sua criação" e "sofreu uma derrota militar e política", já que três de seus principais comandantes militares foram mortos em ataques israelenses. "O Hamas não obteve nada do que exigia", garantiu. Por sua vez, a imprensa israelense expressava dúvidas nesta quarta-feira.
"Empate", esta foi a manchete do jornal Maariv (centro-direita).
De acordo com relatos da imprensa, Netanyahu se recusou a conduzir uma votação do gabinete de segurança antes de aprovar o cessar-fogo, ao qual pelo menos quatro dos seus oito membros contestavam.
Esta discordância foi expressa no governo pela voz de Uzi Landau, ministro do Turismo e membro do partido nacionalista Israel Beiteinu. "O sentimento geral é de que se pagou ao terrorismo", disse à rádio pública. "Israel deu a impressão de que queria a paz a qualquer preço o que reduziu o nosso poder de dissuasão".
Esperanças de uma trégua sólida
Internacionalmente, o secretário de Estado americano, John Kerry, saudou o acordo, esperando que esta nova trégua seja mantida, assim como o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que disse esperar que o cessar-fogo seja um "prelúdio de um processo político".
O chanceler francês, Laurent Fabius, também desejou um cessar-fogo "durável", enquanto o Irã saudou a "vitória" dos palestinos, e o Catar, um dos principais aliados do Hamas, afirmou que o acordo vai ajudar a "acabar com o sofrimento do povo palestino e alcançar suas reivindicações legítimas."
De acordo com o chefe da delegação palestina, Azzam al-Ahmed, deve entrar imediatamente em vigor "o processo de abertura das passagens para as necessidades humanitárias e de alimentos, de equipamentos médicos e de tudo o que irá ajudar a reparar os sistemas de fornecimento de água, energia elétrica e telefonia móvel".
A restrição à zona de pesca de três milhas náuticas deve passar para seis milhas (11 km) e depois para 12, de acordo com Ahmed.
Ainda não há detalhes sobre a possível retomada das exportações a partir do território palestino ou da importação de materiais de construção para Gaza, cuja reconstrução vai demorar meses ou anos depois que pelo menos 55 mil casas foram atingidas pelos ataques israelenses, segundo a ONU..