O exame feito em uma funcionária do hospital no Texas onde foi tratado um liberiano que morreu com o vírus Ebola deu resultado positivo, tornando-se o segundo caso nos Estados Unidos, algo considerado "muito preocupante" pelas autoridades americanas.
Assim como no primeiro caso, a funcionária ficou doente após atender o paciente liberiano com Ebola, que morreu no começo do mês no Hospital Presbiteriano de Dallas.
A profissional, que apresentou febre na terça-feira, foi imediatamente isolada. Mas, um dia antes do diagnóstico, ela tinha viajado de avião, informaram autoridades de Saúde, que agora procuram as 132 pessoas do voo doméstico para submetê-las a exames.
Ela foi de Dallas/Fort Worth para Cleveland/Ohio no dia 10 de outubro e voltou no dia 13.
"Ela fazia parte de um grupo de indivíduos conhecido por exposição ao Ebola. Ela não deveria ter viajado em um avião comercial", afirmou o diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Thomas Frieden.
Embora exista uma "probabilidade extremamente baixa" de que ela possa ter infectado outros viajantes, Frieden disse a jornalistas que as autoridades se preparam para o aparecimento de novos casos nos próximos dias.
"Ela não vomitou, não tem sangramento. Portanto, o nível de risco para as pessoas em torno dela é extremamente baixo. Mas para termos uma margem extra de segurança, estamos contatando todos", explicou Frieden.
Atualmente, o estado de saúde da mulher é considerado estável. Ela foi transferida para o hospital da Universidade Emory, em Atlanta, onde será mantida em isolamento.
"Este segundo caso (de infecção) de um profissional da saúde é muito preocupante", afirmou Frieden mais cedo. As diretrizes do CDC ressaltam a necessidade de "movimentos controlados" e isto não inclui qualquer tipo de transporte público, afirmou.
"Estamos identificando mais profissionais de saúde para que sejam monitorados atentamente", prosseguiu.
Após o anúncio do segundo caso de infecção dentro dos Estados Unidos, o presidente americano, Barack Obama, realizou uma reunião com altos funcionários do governo sobre o tema e prometeu uma resposta mais agressiva dos Estados Unidos à ameaça do Ebola, insistindo que o risco de uma epidemia séria da febre hemorrágica em solo americano é baixa.
Segundo Obama, o "monitoramento, a supervisão, a vigilância em uma forma muito mais agressiva sobre o que está acontecendo em Dallas" vai garantir que essas lições sejam "transmitidas para hospitais e clínicas em todo o país".
O presidente reforçou ainda a importância em ajudar países africanos a conter a disseminação do vírus, referindo-se a esta ajuda como "um investimento em nossa própria saúde pública".
Mais cedo, Obama participou de uma videoconferência com aliados europeus em que pediu um esforço "maior" na luta contra a epidemia.
Participaram da videoconferência de uma hora e quinze de duração o primeiro-ministro britânico, David Cameron, o presidente francês, François Hollande, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o premiê italiano, Matteo Renzi.
"Os dirigentes concordaram que esta é a mais grave urgência sanitária dos últimos anos e que a comunidade internacional deveria fazer muito mais e com maior rapidez para conter a progressão da doença", indicou em um comunicado um porta-voz do premiê britânico.
Ebola 'está vencendo a corrida'
"A epidemia anda mais rápido que nós e está vencendo a corrida", admitiu nesta quarta-feira Anthony Banbury, chefe da missão das Nações Unidas encarregado de coordenar a resposta de emergência ao vírus.
Após uma reunião especial do Conselho de Segurança das Nações Unidas na terça-feira, o órgão emitiu um comunicado nesta quarta em que faz um apelo para que a comunidade internacional "acelere e expanda dramaticamente" o combate à epidemia de Ebola.
No comunicado, adotado por unanimidade pelos 15 integrantes do Conselho, admite-se que a comunidade internacional "fracassou até agora em abordar de forma adequada a magnitude da epidemia e seus efeitos".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) teme uma explosão de casos da doença onde a epidemia se concentra - Guiné, Serra Leoa e Libéria. Nesses países, a taxa de mortalidade é de 70% das pessoas infectadas.
Nessa região, a epidemia pode alcançar entre 5.000 e 10.000 casos por semana contra os cerca de mil atuais, advertiu a entidade, que estabeleceu um novo balanço global, de 4.493 mortos de um total de 8.997 casos registrados em sete países: Libéria, Serra Leoa, Guiné, Nigéria, Senegal, Espanha e Estados Unidos.
Na Espanha, a auxiliar de enfermagem contaminada pelo vírus - o primeiro caso de infecção fora da África - permanece em estado grave mas "estável", segundo o último boletim médico.
Em Dubai, as autoridades colocaram em quarentena nesta quarta-feira um passageiro procedente da Libéria com sintomas de Ebola, no primeiro caso suspeito registrado na região do Golfo.
O homem, que chegou da Libéria via Marrocos, foi "isolado para exames porque estava com diarreia", mas não tinha febre, anunciou o ministro da Saúde dos Emirados Árabes Unidos.
Polêmica nos Estados Unidos
Antes mesmo de ser conhecido o segundo caso de contágio em território americano, a polêmica já tinha se instalado nos Estados Unidos pela suposta insuficiência das medidas de segurança para evitar a propagação do vírus.
"Não é aceitável que dois trabalhadores sanitários que davam assistência a uma pessoa sejam infectados devido à sua exposição", afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Alérgicas e Infecciosas.
"Isto não deveria ter acontecido", acrescentou. Fauci disse que as autoridades de Saúde devem começar a oferecer um treinamento melhor para evitar futuros casos.
O diretor dos CDC sugeriu que o primeiro caso de contágio dentro do país pode ter acontecido por negligência no procedimento médico. Em reação, um sindicato de enfermeiras criticou nesta quarta-feira a ausência absoluta de protocolo.
"As equipes de enfermagem não receberam instruções específicas, nem quando o paciente deu entrada na emergência, nem quando esteve em tratamento", afirmou Roseann De Moro, presidente do sindicato.
"Enquanto o paciente vomitava e tinha diarreia, as equipes não receberam indicação alguma sobre o que fazer com os dejetos, nem como limpar um material que era altamente contagioso", insistiu.
Segundo as autoridades sanitárias, até 76 funcionários podem ter tido contato com o paciente morto e, portanto, sido expostos ao vírus.
Para conter a expansão da epidemia, as Nações Unidas estabeleceram como meta garantir 70% dos enterros e o isolamento de 70% dos casos suspeitos até 1º de dezembro, um objetivo que a própria organização considera "ambicioso".