O coordenador de pesquisa operacional da organização Médicos sem Fronteiras, Rony Zachariah, denunciou à AFP a situação "catastrófica" vivida em Serra Leona por causa do Ebola, onde as vítimas podem ser muitas mais do que as registradas oficialmente.
"Há pacientes e comunidades que desapareceram e nenhuma estatística é coletada", afirmou Zachariah, para quem a cifra oficial de quase 5.000 vítimas nesta epidemia "é um número muito inferior ao real".
"É difícil saber o número exato.
Recém-chegado do país africano, onde visitou especialmente as zonas rurais, Zachariah analisou a "catastrófica" situação de Serra Leoa no âmbito da 45ª edição da conferência mundial sobre saúde pulmonar, celebrada em Barcelona, onde está para conscientizar a comunidade médica sobre a necessidade de agir contra o Ebola.
"A situação é catastrófica. Algumas aldeias e comunidades foram basicamente arrasadas. Um povoado tinha 40 habitantes, dos quais 39 morreram. Só um sobreviveu. Em outra aldeia, os 12 membros de uma família - avós, pais e filhos - morreram", lembrou o médico.
"O mais triste é que nenhum está nas estatísticas. A situação em campo é muito pior", acrescentou.
Na sua opinião, a epidemia superou a capacidade do precário sistema de saúde destes países, que têm pouco pessoal e pouca logística.
"Há regiões com três ambulâncias para uma população de 400.000 pessoas. Em uma localidade, o chefe local me disse que tiveram que aguardar seis dias para que uma ambulância levasse um cadáver", relatou o médico, destacando as graves consequências da morte de pessoal sanitário, que está levando os centros médicos ao colapso.
"No melhor dos casos, estes países têm uma enfermeira por 10.000 habitantes.
Por isso, ela pediu que se aproveite o momento atual de preocupação política internacional para levar pessoal sanitário, meios de transporte e logística às regiões afetadas.
Satisfeito com a atenção internacional que a epidemia despertou, Zachariah lamentou, no entanto, que não tenha acontecido antes.
"O fato de ter chegado à Europa mudou tudo. Estamos felizes com isso, mas temos que ir muito mais rápido porque o relógio faz tique-taque. Não será em dezembro, não será em janeiro, é agora. Queremos ação agora", reivindicou.
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