Benghazi – Dezenas de moradores de uma cidade no Leste da Líbia declararam aliança a Abu Bakr al-Baghdadi, líder dos militantes do Estado Islâmico (EI), de acordo com um vídeo divulgado ontem. Cerca de 50 jovens podem ser vistos em um vídeo apresentado em redes sociais em apoio a Baghdadi, que se autointitula califa, ou líder muçulmano, do EI, grupo extremista que luta na Síria e no Iraque. Um morador de Derna confirmou a autenticidade do vídeo, gravado na noite de sexta-feira. Nações ocidentais e países vizinhos da Líbia têm tido grandes preocupações de que o Estado Islâmico esteja tentando explorar a desordem na Líbia, onde militantes islamistas e outras milícias que ajudaram a derrubar Muammar Gaddafi em 2011 estão estabelecendo feudos.
Ontem, o aeroporto de Labraq, principal porta de entrada no Leste da Líbia, foi fechado depois de várias explosões serem registradas. A Líbia, país produtor de petróleo, tem enfrentado caos com dois governos e dois parlamentos disputando legitimidade três anos após a saída de Gaddafi do poder. Uma facção armada, principalmente de Misrata, tomou Trípoli em agosto, colocando no poder seu próprio primeiro-ministro e Parlamento, forçando o antigo governo a se mudar para o Leste, onde o Parlamento eleito também está baseado. O aeroporto de Benghazi está fechado desde maio.
A esta situação soma-se o fato de que há mais de 40 dias as forças dos Estados Unidos e árabes têm bombardeado alvos do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, desde que os militantes declararam um califado no território sob seu controle, mas os ataques parecem não estar surtindo o efeito esperado. Acusado de limpeza étnica e de crimes contra a humanidade pela ONU, o Estado Islâmico aproveitou a guerra civil na Síria e a instabilidade do Iraque para assumir o controle de vastas faixas de território nos dois países, espalhando o terror em sua passagem.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), os jihadistas sofreram pelo menos 100 baixas nos últimos três dias, tentaram assumir o controle dos bairros da zona norte de Kobane, com o objetivo de cercar a localidade e cortar o acesso à vizinha Turquia, cuja fronteira fica a menos de um quilômetro e por onde 150 combatentes curdos iraquianos entraram na sexta-feira. De acordo com o OSDH, 576 jihadistas morreram na batalha de Kobane desde setembro. Também faleceram 361 milicianos curdos e aliados, assim com 21 civis, em um total de 958 pessoas.
DERROTA E APOIO Enquanto os curdos defendem Kobane, que virou o símbolo da resistência, os jihadistas da Frente Al-Nosra expulsaram os rebeldes moderados da Frente Revolucionária Síria (FRS) de seu reduto do Noroeste da Síria, após 24 horas de combates. “A Frente Al-Nosra assumiu o comando em Deir Sinbel e agora controla a maioria das localidades e vilarejos da região de Jabal al-Zawiya”, disse o OSDH. “Os combatentes do braço sírio da Al-Qaeda ficaram com armas e tanques da FSR.” A derrota é um duro golpe aos esforços dos Estados Unidos para criar e treinar uma força moderada entre os rebeldes que lutam contra o regime do presidente sírio Bashar al-Assad.
Para demonstrar o apoio aos combatentes de Kobane, o principal partido curdo da Turquia convocou manifestações em todo o país e em cidades da Europa. O PKK critica Ancara pela falta de uma intervenção na Síria. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan se nega a entrar na disputa, por temer acabar reforçando os curdos da Turquia, com os quais negocia um processo de paz há dois anos, marcado por muitos obstáculos.