Os pais dos 43 estudantes desaparecidos em setembro no México iniciaram caravanas, nesta quinta-feira, para exigir das autoridades notícias sobre o paradeiro de seus filhos.
Eles rejeitam a versão oficial de que os jovens foram assassinados, insistindo em que seus filhos continuam vivos.
"Estão desaparecidos, mas não estão mortos.
"Exigimos respeito pela vida. Que nossos 43 garotos apareçam! Temos certeza de que continuam vivos e vamos continuar procurando por eles. Vamos nisso até o final", garantiu à AFP o porta-voz dos pais, Felipe de la Cruz, pouco antes de embarcar em um dos ônibus que levarão parentes e outros estudantes a percorrer mais de 1.700 quilômetros até o estado de Chihuahua (norte), na fronteira com os Estados Unidos.
Formada por cinco pais das vítimas e por dezenas de estudantes que os apoiam, esta é a primeira das três caravanas que partirão para diferentes pontos do país, saindo da escola rural de Magistério de Ayotzinapa, no estado de Guerrero (sul). Era nessa instituição que os jovens estudavam.
"Não há dúvida de que o pesadelo que nossos filhos viveram foi feito pelo Estado", continuou De la Cruz, reforçando a mensagem que esperam ver ecoar por todo o país.
A chamada "Caravana Brigada Nacional dos 43 Desaparecidos" se divide em três partes e percorrerá sete estados - entre eles Chihuahua e Chiapas, fronteiriço com a Guatemala. O destino final é a Cidade do México, com previsão de chegada em 20 de novembro.
"Está acesa a chama da insurgência civil", completou, já quase sem voz, De la Cruz, explicando que o objetivo das caravanas é exigir que o governo dê uma resposta ao desaparecimento de seus filhos.
Pouco depois da partida do primeiro grupo, chegou à escola uma marcha com cerca de 500 moradores de Ayotzinapa. A multidão estava vestida de branco, em apoio a essas caravanas.
Incansáveis, sob o sol inclemente, os manifestantes levavam fotografias dos estudantes e gritavam palavras de ordem contra o presidente do México, Enrique Peña Nieto, mergulhado na pior crise política de seu governo.
A organização dessas caravanas acontece em meio a uma série de protestos deflagrados depois que, na sexta-feira passada, a Procuradoria informou que, segundo traficantes presos, os 43 jovens teriam sido assassinados, e seus corpos, incinerados e jogados em um rio após terem sido capturados por policiais em 26 de setembro.
A ação contra os estudantes teria sido ordenada pelo agora ex-prefeito de Iguala, José Luis Abarca, já detido.
O caso teve repercussões políticas no país.
Apelos à calma
Grupos de professores radicais e estudantes protagonizaram três dias consecutivos de protestos. Nesse período, bloquearam por horas o aeroporto da cidade turística de Acapulco (sul) e, em Chilpancingo, capital da região, atearam fogo à sede do governista PRI, assim como dentro do prédio da Assembleia Legislativa estadual.
Também houve manifestações em estados vizinhos, como Michoacán (oeste) e Oaxaca (sul), além de incidentes em uma marcha realizada no sábado, na Cidade do México.
Apesar dos protestos, o governo, através do subsecretário das Relações Exteriores mexicano, Juan Manuel Gómez Robledo, rebateu as críticas de que as autoridades responderam de forma tardia a essa crise. Ele informou ainda que o caso será investigado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
O governo dos Estados Unidos se uniu aos pedidos de calma lançados pelo próprio Peña Nieto.
"Pedimos a todas as partes que mantenham a calma durante todo esse processo", disse a porta-voz do departamento de Estado, Jen Psaki, em entrevista coletiva na quarta-feira, reiterando que este crime "bárbaro" deve ser investigado de forma completa e transparente.
Autoridades do setor de Turismo de Guerrero pediram que seja declarada uma trégua nos protestos, devido ao impacto nas reservas feitas por visitantes para Acapulco e outras zonas desse empobrecido estado.
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