Jornal Estado de Minas

Peter Kassig, executado pelo Estado Islâmico, tinha a vocação de ajudar os sírios

AFP

O refém americano Peter Kassig, cuja execução por decapitação foi reivindicada neste domingo pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), havia fundado uma organização humanitária e afirmava ter como vocação ajudar os sírios vítimas da guerra neste país.

Com 26 anos, este ex-soldado de Indiana (nordeste dos Estados Unidos), fundou a organização humanitária Special Emergency Response and Assistance (Sera) em 2012, depois de deixar o exército.

Convertido ao Islã, havia adotado o nome muçulmano de Abdul-Rahman.

Sequestrado no dia 1º de outubro de 2013 na Síria, Kassig estava nas mãos da organização jihadista do EI, que publicou neste domingo um vídeo reivindicando a sua execução. Nas imagens, um homem mascarado vestido de preto aparece com uma cabeça decepada, "é Peter Edward Kassig, um cidadão americano de seu país", afirma o homem no vídeo.

Peter Kassig havia aparecido em 3 de outubro em um outro vídeo mostrando a decapitação de outro refém, o britânico Alan Henning. Na época, foi ameaçado de morte pelos jihadistas em retaliação aos ataques aéreos americanos no Iraque e na Síria.

"Aqui encontrei a minha vocação"

O jovem estava na região desde março de 2012, quando viajou para o Líbano, por ocasião de suas férias da universidade.

Tendo testemunhado o sofrimento do povo sírio, enviou um e-mail para sua família e amigos para anunciar que não retornaria imediatamente.

"Eu tentei viver minha vida da maneira que acreditava, mas a verdade é que a maior parte da minha vida não fiz nada mais do que procurar a minha vocação, que ainda não tinha encontrado. Aqui neste país, eu encontrei a minha vocação", escreveu ele.

No mês passado, seu pai, Ed Kassig, explicou que seu filho havia "ajudado a formar 150 civis para que pudessem prestar assistência médica às pessoas na Síria", acrescentando que "dava comida, roupas e remédios para os necessitados".

"Ele desenvolveu um enorme carinho e admiração pelo povo sírio. Sentia-se em casa, na Síria. A viagem de nosso filho culminou quando ele abraçou o Islã", disse ele.

Em um e-mail a um amigo em 2012, Kassig descreveu a desolação da guerra e sua esperança para o futuro.

"Como descrever as paredes crivadas de balas e as flores que são depositadas em cima?", escreveu. "A guerra nunca tem fim, apenas avança...", lamentou.

"Medo de morrer"

Em junho passado, em um carta enviada a seus pais, Peter Kassig falava de seu "medo de morrer".

"Evidentemente tenho medo de morrer, mas o mais difícil é não saber, questionar, esperar e perguntar a mim mesmo se posso aguentar o que vier pela frente.

Estou muito triste com tudo o que isto produz e com o fato de vocês sofrerem em casa por isso", escreveu.

"Se morrer, acreditem que nós, vocês e eu, ao menos poderemos encontrar consolo pensando que viajei (à Síria) para tentar aliviar o sofrimento e ajudar aqueles que necessitam", continuava sua carta.

"De acordo com a fé que abracei, rezo todos os dias, e neste sentido, estou em paz com as minhas convicções", afirmava.

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