Um grupo de manifestantes com o rosto coberto enfrentaram, nesta quinta-feira, com coquetéis molotov e explosivos, a tropa de choque da polícia nas imediações do aeroporto da Cidade do México, em um tenso dia de protestos pelo desaparecimento e possível massacre de 43 estudantes desaparecidos.
Armados com paus e canos, vestidos de preto, os manifestantes também atiraram pedras contra os agentes de segurança, que os encurralavam, tentavam dispersá-los e liberar a via, bloqueada com barricadas de pneus e troncos incendiados, a 2,5 km do terminal aéreo.
Mais cedo, o grupo tinha bloqueado durante uma hora outra via mais próxima do aeroporto, mas os policiais antimotins os impediram de avançar, enquanto no centro da capital, estudantes protestavam contra o governo, bloqueando a entrada da sede da secretaria de Educação.
Policiais guardavam edifícios públicos e muitas lojas estavam protegidos com grades, perto da emblemática praça do Zócalo, aonde seguiriam várias marchas, na chegada das caravanas de pais dos desaparecidos que percorreram o país clamando para que os filhos apareçam com vida.
A crise teve início depois que 43 estudantes da escola de professores de Ayotzinapa (Guerrero, sul) despareceram em 26 de setembro na cidade de Iguala, no mesmo estado, após serem atacados por policiais corruptos e narcotraficantes por ordem do prefeito, vinculado ao cartel Guerreros Unidos.
O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, no olho do furacão deste caso e mergulhado no escândalo da luxuosa mansão de sua esposa, vive a pior crise de seu governo desde que assumiu o poder, em 2012, advertiu que agirá com mão firme aos casos de violência.
"O México, é certo, está dolorido; mas o único caminho para aliviar esta dor é o da paz e o da justiça", disse Peña Nieto no tradicional ato de condecoração de militares no dia da Revolução Mexicana de 1910, celebrado no campo de Marte, situado no centro da Cidade do México.
O ministro da Defesa, Salvador Cienfuegos, advertiu que a violência só leva "à frustração, à ingovernabilidade, à instabilidade" e gera "rancores inconciliáveis, letargia econômica e paralisia coletiva".
Nestes dois meses foram celebrados protestos violentos, com bloqueios e queima de prédios estatais, sobretudo em Guerrero. Em 8 de novembro passado, um pequeno grupo tentou incendiar a porta do Palácio Nacional, na Cidade do México.
A mega-marcha organizada levou o governo a cancelar o desfile militar e civil que a capital celebra todos os anos para a ocasião. Outras passeatas foram convocadas em cidades de pelo menos a metade dos estados do país, várias nos Estados Unidos e na Europa, nas Américas do sul e Central.
Quatro mil pessoas, entre as quais professores radicais e universitários, marcharam em uma estrada estratégica que liga a capital ao balneário de Acapulco, e outras 2.000 em Chilpancingo, capital de Guerrero.
Outros milhares de estudantes marcharam em Puebla (centro) com cartazes e mantas. "Foram levados vivos, os queremos vivos", gritavam.
Segundo as investigações oficiais, os policiais entregaram os estudantes a matadores do cartel, que os executaram e queimaram os corpos em um lixão de Cocula, vizinho a Iguala, atirando seus restos em um rio. Os pais dos estudantes afirmam que eles estão sequestrados e exigem que o governo continue com as buscas.
Os mexicanos têm protestado contra o desaparecimento dos estudantes, mas também para expressar sua fadiga com a corrupção, a penetração do narcotráfico nas instituições - algo que ficou claro no caso de Iguala - e a violência.
A ofensiva militar, iniciada em 2006 pelo então presidente Felipe Calderón contra os cartéis do tráfico, matou mais de 80.000 pessoas e deixou 22.000 desaparecidos. A grande maioria destes crimes permanece impune.
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