Jornal Estado de Minas

Casos de violência policial contra negros faz "explodir" onda de protestos

Repetição dos casos de violência policial impune contra negros alimenta onda de protestos em várias cidades

Jorge Macedo - especial para o EM
Gabriela Freire Valente

A morte de mais dois negros em incidentes de violência com policiais brancos nos Estados Unidos alimenta a onda de protestos sobre o excesso de força policial contra negros no país.
Enquanto ativistas nova-iorquinos continuavam manifestando indignação pela decisão, anunciada na quarta-feira por um júri, de não indiciar o policial envolvido na morte de Eric Garner, manifestantes cobravam providências sobre os casos de Rumain Brisbon, em Phoenix (Arizona), e de Akai Gurley, em Nova York. Especialistas em direitos humanos das Nações Unidas expressaram preocupação com o padrão adotado por júris americanos de não levar a julgamento policiais envolvidos na morte de negros, e pediram o fim da discriminação racial no país.

Mais uma noite de manifestações era esperada ontem, na sequência de uma série de protestos desencadeados há duas semanas pelo não indiciamento do policial Darren Wilson, autor dos disparos que mataram o jovem Michael Brown, em Ferguson, subúrbio de Saint Louis (Missouri). Em Phoenix, ativistas cobravam a divulgação da identidade do policial branco que atirou duas vezes contra Brisbon. Em Nova York, manifestantes convocavam atos para a véspera do funeral de Gurley, de 27 anos.

O jovem foi morto pelo policial Peter Lian na escadaria de um prédio, em 20 de novembro. Ele estava desarmado e deixava a casa de um amigo. O comissário de polícia William Bratton afirmou que o incidente resultou de um disparo acidental, mas assinalou que Gurley era “completamente inocente”. Ontem, a divulgação da informação de que Lian enviava mensagens de texto para líderes sindicais da polícia logo após balear o jovem no peito reacendeu a revolta.
Segundo o jornal Daily News, foi um morador do prédio que chamou o serviço de emergência para socorrer o rapaz.

Em Phoenix, cerca de 200 pessoas marcharam na noite de quinta-feira em direção à sede do Departamento de Polícia local, depois de a instituição defender a decisão do agente – não identificado – de atirar contra a Brisbon, de 34 anos, na terça-feira. Segundo a polícia, ele tentou fugir de uma abordagem e se negou a obedecer às ordens de prisão. Brisbon teria entrado em confronto físico com o policial, que suspeitava que a vítima vendesse drogas. O agente afirmou que Brisbon colocou a mão no bolso e, temendo que ele sacasse uma arma, disparou duas vezes contra o peito da vítima – que, segundo amigos e familiares, levava o jantar para a família.

revolta Os casos de Brisbon e Gurley se somam à série de mortes de afro-americanos pelas mãos de agentes da lei, motivo de revolta que ameaça se alastrar pelo país. Na noite seguinte ao anúncio do júri de Staten Island sobre o caso de Garner, morto em julho, cerca de 200 manifestantes foram presos em Nova York. Apesar de os atos terem sido descritos como fundamentalmente pacíficos, policiais usaram spray de pimenta contra ativistas. Atos de solidariedade foram realizados em diversas cidades americanas, como Boston, Chicago, Filadélfia, Baltimore e a capital, Washington.

Especialistas em direitos humanos das Nações Unidas expressaram desapontamento pelo não indiciamento dos policiais envolvidos nas mortes de Michael Brown e Eric Garner. Em comunicado divulgado pela Rádio ONU, eles pediram o fim da discriminação racial por membros da polícia americana. “As decisões me levam a legítimas preocupações sobre um padrão de impunidade quando as vítimas de excesso de força são afro-americanos ou integrantes de outras minorias”, observou Rita Izsák, especialista em grupos minoritários.

O painel de analistas lembrou que o direito internacional permite o uso de equipamento letal apenas em casos de necessidade de proteção da vida do agente, e sugeriu uma reforma no sistema de policiamento americano. “As leis de diversos estados dos EUA são muito mais permissivas, criando uma atmosfera em que o uso da força preocupa. Uma revisão abrangente do sistema é necessária para tratar as leis, os tipos de armas usadas pela polícia, o treinamento e o uso de tecnologia, como as câmeras nos uniformes”, apontou Christof Heyns, especialista em execuções arbitrárias..