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Estado de Minas

Após massacre, Paquistão suspende moratória sobre pena de morte

Medida foi tomada após o pior atentado na história do país, cometido em uma escola administrada pelo exército em Peshawar


postado em 17/12/2014 09:25 / atualizado em 17/12/2014 11:43

O Paquistão anunciou nesta quarta-feira a suspensão da moratória sobre a pena de morte em casos de terrorismo, um dia após o ataque talibã que matou 148 pessoas em uma escola de Peshawar, entre elas 132 alunos. O anúncio foi feito pelo gabinete do primeiro-ministro Nawaz Sharif, no primeiro de três dias de luto nacional decretado após o pior atentado na história do país, cometido em uma escola administrada pelo exército em Peshawar (noroeste).

O ataque deixou 148 mortos, segundo um novo balanço militar. O número anterior era de 141 falecidos. No Paquistão, as condenações à morte são relativamente frequentes, mas a pena não é aplicada desde 2008, exceto no caso de um soldado condenado em 2012 por um tribunal militar. Segundo a Anistia Internacional, há mais de 8.000 pessoas no corredor da morte.

Muitas lojas e escolas estavam fechadas nesta quarta-feira e foram organizadas orações em memória das vítimas em todo o país, onde vários observadores pediram que as autoridades erradiquem de uma vez por todas a violência islamita. O primeiro-ministro estava em Peshawar, onde presidiu uma reunião com todos os partidos políticos e renovou sua promessa de alcançar a paz.

Realidade


O ataque de terça-feira foi reivindicado pelo Movimento de Talibãs do Paquistão, que anunciou uma vingança contra a ofensiva militar iniciada em junho contra eles em seu reduto tribal do Waziristão do Norte, perto da fronteira com o Afeganistão. "Queremos fazê-los viver o sofrimento terrível de quando matam um ente querido. Suas famílias deverão chorar seus mortos, como nós fizemos", disse um porta-voz dos talibãs, Muhamad Khurasani.

O atentado foi condenado em todo o mundo, e inclusive os talibãs afegãos se somaram a esta condenação, dizendo que "o assassinato de inocentes, mulheres e crianças vai contra os princípios do Islã". Na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi deixou de lado a tradicional rivalidade com o Paquistão e pediu que as escolas fizessem um minuto de silêncio.

Logo após o fim do ataque, que durou oito horas, muitos analistas, começando pela imprensa local, pediram que o governo e o exército "encarem a realidade de frente" e encontrem uma forma de lidar com os atentados de islamitas, que deixaram mais de 7.000 mortos desde 2007. No entanto, a questão do islamismo radical, herdada de décadas de conflitos com a Índia e o Afeganistão vizinhos, continua sendo um tema delicado em um país onde esta corrente segue sendo influente entre a classe política.

Segundo o analista Raza Rumi, do Instituto da Paz dos Estados Unidos, o fim desta violência também significará acabar com atitudes muito arraigadas na sociedade paquistanesa. "Três décadas de islamização e a adoção da ideologia islamita como ideologia nacional se traduziram em uma ampla aceitação de atos cometidos em nome do Islã", disse à AFP.

Matem todos

Desde a noite de terça-feira são organizadas vigílias nas cidades do país em homenagem às vítimas. Na manhã desta quarta-feira todas as escolas públicas e privadas estavam fechadas na província de Khyber Pajtunjua, onde o ataque ocorreu.
Em Lady Reading, o principal hospital público de Peshawar, os sobreviventes seguiam contando o horror que viveram.

"Era como em um filme do Velho Oeste", disse à AFP Ahmad Faraz, um aluno de 14 anos que estava no auditório com outros 250 estudantes quando os talibãs invadiram o local.
Vestidos com uniformes paramilitares, armados e com coletes à prova de balas, começaram a atirar de forma contínua e para todos os lados, gritando "Allahu Akbar" ("Alá é grande"), lembra Ahmad Faraz.

"A sala se encheu de gritos e choro. Vi meu professor sangrando", afirmou. "Depois, um talibã disse aos demais: 'alguns ainda estão escondidos embaixo dos bancos e das mesas, matem todos!'".
"Nesse momento começaram a nos matar um a um. Foi um pesadelo, a cada bala que disparavam ouvia os gritos". Baleado no ombro, Ahmad Faraz se fingiu de morto e depois desmaiou. Quando acordou estava no hospital, feliz por ter sobrevivido.


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