"Não, não penso que tenha sido um ato de guerra.
"Pensamos que é muito sério, e nossa resposta será proporcional", advertiu o presidente, durante o programa "State of the Union". A ciberespionagem contra a Sony no fim de novembro trouxe à tona milhares de e-mails muito embaraçosos para seus diretores e obrigou a empresa a suspender a estreia do filme "A Entrevista", uma paródia sobre um complô da Agência Central de Inteligência americana, a CIA, para matar o líder norte-coreano, Kim Jon-un.
Sem vinculá-lo ao ataque a uma das maiores produtoras do cinema americano, Obama advertiu que os Estados Unidos estudarão incluir a Coreia do Norte na lista de países que apoiam o terrorismo. Pyongyang havia sido retirada dessa lista em 2008. "Vamos rever isso por meio de um processo que já está em andamento", afirmou.
"Nossos critérios para dizer que um Estado apoia o terrorismo são muito claros. Não emitimos juízos unicamente com base nas notícias diárias", explicou. A Coreia do Norte negou várias vezes ser responsável por um dos maiores ciberataques contra uma empresa americana, que contou, ainda, com a divulgação de dados salariais da Sony, de números da Seguridade Social de milhares de funcionários e até roteiros em elaboração.
Guerra cibernética
Obama também insistiu em que a Sony não deveria ter cancelado a estreia do filme, considerado pela Coreia do Norte um "ato de terrorismo que afeta a dignidade do líder supremo" do país. "Se estabelecemos um precedente, no qual um ditador pode perturbar, com hackers, a rede de distribuição de uma empresa e seus produtos, começamos a nos censurar nós mesmos, e isto é um problema", advertiu Obama.
O ataque cibernético é uma "nova forma de fazer a guerra", disse à CNN o senador republicano, John McCain.
Neste domingo, a Coreia do Norte ameaçou adotar represálias contra a Casa Branca e outros alvos americanos, caso as sanções contra o país sejam levadas adiante.
Citada pela agência oficial de notícias, a Comissão Nacional de Defesa norte-coreana (NDC, na sigla em inglês) afirmou que o Exército e o povo da Coreia do Norte estão "preparados para um confronto com os Estados Unidos, em todos os espaços de conflito, inclusive os espaços da ciberguerra".
Apesar das ameaças, Washington rejeitou a oferta de Pyongyang de realizar uma "investigação conjunta" do ataque à Sony Pictures, que poderia levar a perdas de até US$ 500 milhões para a empresa, segundo especialistas consultados pela AFP.
"Se a Coreia do Norte quer ajudar, deve admitir sua culpa e compensar a Sony pelos danos que o ataque causou", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, Mark Stroh.
Ajuda da China
Paralelamente, os Estados Unidos pediram ajuda da China para bloquear ataques cibernéticos norte-coreanos. "Falamos dessa possibilidade com a China para compartilhar informação. Expressamos nossa preocupação com esse ataque e pedimos sua cooperação", declarou no sábado um funcionário do governo americano à AFP.
Segundo o FBI (a Polícia Federal americana), os hackers usaram um software malicioso ("malware") para entrar no sistema do estúdio e deixar os computadores inoperantes, forçando a empresa a desligar toda a rede. A investigação também mostrou algumas similaridades com outros aplicativos maliciosos desenvolvidos por "atores da Coreia do Norte".
No sábado, o governo sul-coreano responsabilizou a vizinha comunista por organizar o ataque cibernético e disse ter reconhecido "semelhanças entre os ataques contra a Sony Pictures e os praticados contra bancos e outras (entidades) sul-coreanos", em março de 2013. O ataque foi reivindicado pelo grupo GOP ("Guardians of Peace", Guardiães da Paz).
O presidente da Sony defendeu a decisão de retirar "A Entrevista" de todos os canais de distribuição e afirmou que "o presidente (dos Estados Unidos), a imprensa e o público são os que estão errados sobre o que ocorreu na realidade"..