Franco-atiradores nos telhados, helicópteros sobrevoando a área, funcionários das empresas locais escondidos, moradores trancados dentro de casa: a zona industrial do nordeste de Paris onde os dois irmãos acusados pela chacina na revista francesa Charlie Hebdo se encontram entrincheirados nesta sexta-feira ficou em estado de sítio.
Com ruas desertas, comércios fechados e acessos rodoviários bloqueados pela polícia, nenhum movimento é registrado entre os moradores de Dammartin-en-Goële. A pequena cidade de 8.000 habitantes, situada perto do aeroporto internacional Charles de Gaulle de Roissy, está mergulhada na neblina, na tensão e na incerteza.
Os irmãos Said e Cherif Kouachi, identificados pelas autoridades como os responsáveis pelo ataque contra Charlie Hebdo que deixou 12 mortos na quarta-feira, fizeram um refém numa gráfica dessa zona industrial. "Minha filha me disse: 'mamãe, não fique com medo, estamos bem protegidos. Ela está serena, mas eu estou com medo. Estou com muito medo", confessa, aos prantos, uma senhora de 60 anos, cuja filha trabalha numa empresa situada "numa zona onde os terroristas estão escondidos".
"A empresa onde ela trabalha está sendo protegida pelo GIGN (batalhão de elite da polícia militar francesa). Eles pediram para que ela desligasse a luz e permaneça escondida", revela a mãe. Localizado perto de um bosque, o setor reúne uma das maiores concentrações de armazéns da França, com inúmeros prédios enfileirados ao longo de uma rodovia. "Há franco-atiradores em cima do telhado do depósito. Os nossos funcionários estão sendo protegidos lá dentro por um cordão policial", descreve Marcel Bayeul, sindicalista da empresa de logística Kuehne Nagel, que tem uma das suas sedes no local. "Tudo está acontecendo na gráfica que fica na frente do nosso prédio, é uma gráfica bem pequena", acrescentou.
Ambulâncias
Em mensagem publicada no seu site oficial, a prefeitura de Danmartim pediu para que os moradores ficassem em casa. Foram evacuadas todas as pessoas que puderam ser retiradas do local. As crianças vão permanecer nas escolas até segunda ordem.
"A polícia fez uma busca na zona e nos mandou sair do local. Eles nos deram uma bebida quente porque estamos do lado de fora, no frio. Estamos esperando até agora", conta Stéphane, de 45 anos, funcionário de uma empresa especializada no manuseio de produtos químicos perigosos.
"Estamos começando a entrar em pânico, porque não sabemos exatamente onde estão os caras", acrescentou, referindo-se aos irmãos Kouachi. Antes de fazerem um refém na gráfica, os dois jihadistas assaltaram uma motorista, que os reconheceu. Eles possuem armamento pesado, com fuzis kalachnikov e um lança-morteiro.
"Cinco helicópteros estão sobrevoando o local. Os policiais desceram em rapel até um armazém e em seguida ouvimos tiroteios", relata Patrick Snakowski, agricultor numa fazenda localizada nas proximidades. Patrick alega ter visto os jihadistas se deslocarem, a pé, até a pequena gráfica. "Toda a zona está cercada, não temos direito de sair de casa. Ouvimos helicópteros, um deles está sobrevoando a nossa casa neste momento.
Estou preocupado porque estou tentando entrar em contato com meu filho, que trabalha na zona industrial. Não estou conseguindo. Está tocando de forma estranha, devem ter impedido as telecomunicações", explica Michel Carn, morador de Danmartin, cuja casa é localizada a menos de 600 metros da gráfica. "As ambulâncias estão aí, de prontidão, os bombeiros também", avisou Jean-Pierre Mateo, vice-prefeito da cidade. "Tomara que não tenhamos que usar as ambulâncias".