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Estado de Minas

Maré humana inunda Paris para espantar medo mundial do terrorismo


postado em 11/01/2015 15:55

"Eu sou Charlie, judeu, policial!", "Liberdade, igualdade, desenhem e escrevam!", "Sou muçulmano, mas não terrorista"... Cerca de um milhão de pessoas participaram de uma manifestação histórica, este domingo, em Paris, para espantar o temor mundial do terrorismo e homenagear os 17 mortos nos atentados jihadistas desta semana.

Muito antes de 15h00 locais (12h00 de Brasília), início oficial desta mega-passeata que entrará para a História, os acessos à Praça da República, ponto de encontro tradicional de todos os movimentos sociais na França, estavam bloqueados pela multidão por centenas de metros.

Agitando as bandeiras tricolores do país e cartazes com o lema "Je suis Charlie" milhares de pessoas já se reuniam e entoavam, espontaneamente, o hino nacional, a Marselhesa.

O lema "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie) ganhou várias versões, em todos os idiomas, inclusive o árabe, além de outras variações, como "Somos todos policiais", "somos todos 'hyper casher'", em alusão ao mercado de produtos judaicos alvo do ataque de sexta-feira".

Do outro lado da praça, famílias de vítimas precediam os cerca de 50 chefes de Estados ou de governo. O presidente francês, François Hollande, caminhava de braços dados com o presidente malinense Ibrahim Boubacar Keita e a chanceler alemã, Angela Merkel. O israelense Benjamin Netanyahu e o palestino Mahmud Abbas marcharam a poucos metros um do outro.

Depois de posar para fotos e respeitar um minuto de silêncio, os dirigentes estrangeiros deixam a passeata.

"Sou francês e não estou com medo"

Atrás deles, milhares de parisienses, vindo dos quatro cantos da capital, tentavam se juntar à manifestação. Alguns desistiram por causa dos metrôs lotados e das avenidas totalmente tomadas pela multidão.

Aos pés da estátua que simboliza a República, homens e mulheres de todas as idades, todas as origens e todas as religiões marcaram presença. Momentos de silêncio foram intercalados com cantos e palavras de ordem.

"Façam humor e não guerra", "Sou a liberdade de viver", "Sou francês e não estou com medo", "Derramem tinta, não sangue", "A liberdade de expressão não tem religião" foram alguns dos lemas.

Diferentemente do clima de terror dos último dias, o ambiente era descontraído. Sorridentes, as pessoas puxavam papo com desconhecidos.

"Sou marroquina, muçulmana e nasci na França. Sou a França. Viva a liberdade!", bradou Myriam, de 40 anos.

Um senhor de sessenta anos explicava que era judeu e estava na manifestação porque teme pelo futuro dos netos. "Quero protegê-los de pessoas que nasceram aqui e fazem besteiras", afirmou.

Um enorme caixão em forma de lápis atravessou a multidão, com a menção "Not Afraid" (sem medo, em inglês).

'Nunca participei de passeatas, mas agora...'

A marcha reuniu mais de um milhão de pessoas, segundo contagem da AFP, e tem tudo para ser a mais importante desde a liberação de Paris, na Segunda Guerra Mundial.

"Nunca participei de passeatas, mas agora...": muitas pessoas começaram assim seus depoimentos à AFP. Muitas famílias compareceram, levando crianças pequenas.

"A nossa pequena Julia está doente, mas demos remédios a ela e falamos que era importante", relatou Catherine, que veio com a filha de dez anos.

Alguns ainda pareciam em estado de choque e confessaram ter hesitado antes de ir à rua. "Haverá tanta gente, chefes de Estado, representantes palestinos. As pessoas fazem tanta confusão, há tanto preconceito que tudo pode acontecer", lamentou Alison, judia não praticante de 26 anos.

"Ontem, o dia inteiro, fiquei em dúvida. Nunca pensei que fosse ser tão covarde", confessou a jovem, quase envergonhada de ter demorado para tomar a decisão de se juntar à multidão.

A emoção ganhou até os corredores do metrô parisiense. "Estou muito feliz por trabalhar hoje e levar vocês à passeata republicana", disse ao microfone o condutor da composição lotada que avançava rumo à praça, arrancando aplausos dos passageiros.


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