"Eu marcho por convicção, e não por ordem", explica Soufiane, de 29 anos, um professor muçulmano, que disse não ter atendido "à mídia, aos políticos" para comparecer às ruas de Paris, no ato multitudinário em homenagem às 17 pessoas mortas na França, esta semana.
Cercado de vários amigos, o jovem leva um cartaz com a inscrição "minha religião é a do amor!".
Soufiane disse preferir essa frase ao amplamente adotado "Je suis Charlie, je suis musulman" (Eu sou Charlie, eu sou muçulmano), porque compareceu à marcha "enquanto cidadão" para "lembrar os fundamentos do Islã, frente aos terroristas que desfiguram (sua) fé".
Para ele, a luta deve ser contra toda forma de terrorismo.
Embora reconheça seu "temor" e sua "consternação" com o atentado ao Charlie Hebdo, o jovem revela que ficou "indignado com as publicações" do jornal satírico sobre o profeta Maomé.
"Hoje, eu sou Charlie, mas amanhã talvez não seja", afirmou.
Mais à frente, com uma bolsa cheia de bandeiras turcas, o estudante de Relações Internacionais Hassan as distribuía aos manifestantes.
"É muito importante, para nós, muçulmanos, mostrarmo-nos. Assim, as pessoas podem encontrar verdadeiros muçulmanos, e não esses que elas veem na mídia", comentou.
O medo da analogia imediata entre Islã e terrorismo estava por todos os cantos.
"Tenho medo duplamente. Primeiro, como francês, depois, como muçulmano. É ainda mais difícil para nós", desabafa a franco-tunisiana Tayssir, de 33 anos.
Vários jovens seguravam a faixa "eu sou muçulmano, mas não terrorista", enquanto mulheres desfilaram com o tradicional "hijab".
"Não me olhe esquisito, mas eu sou uma muçulmana contra os terroristas", lança a franco-marroquina Fathia, de 38 anos.
"Algumas pessoas sorriem para ela", diz o marido, Khalid Moumni.
"Minha filha queria estar aqui, mas ela preferiu ficar em casa. Ela usa o véu há pouco tempo e ficou com medo das reações", contou sua mãe, Soulef Hadji, que levava o cartaz "Somos todos Charlie, inclusive o Alcorão".
Já a francesa de origem tunisiana Essia Rammah defendeu "a liberdade de expressão, sim, mas dentro do respeito ao sagrado". Para ela, Charlie "não merece ser morto, mas foi longe demais".