O massacre da última quarta-feira na revista satírica francesa Charlie Hebdo trouxe à tona o debate sobre os limites da liberdade de imprensa e o direito de ofender.
Ao mesmo tempo, muitas vezes no Ocidente apoiaram de forma inequívoca a Charlie Hebdo, que não apenas ri do Islã, como também do cristianismo e do judaísmo, além dos políticos de qualquer bandeira. "A mensagem ficou clara (...) o que está em jogo não é apenas o direito que as pessoas têm de desenhar o que quiserem, e sim que, na sequência dos atentados, o que desenharem deve ser celebrado e difundido", escreveu Teju Cole na New Yorker sobre os cinco cartunistas da Charlie Hebdo mortos pelos irmãos Said e Cherif Kouachi.
O escritor nigeriano-americano acrescentou que "o fato de condenar estes brutais assassinatos não significa que deva justificar sua ideologia". Em um editorial publicado pouco depois do ataque, o jornal britânico The Guardian disse: "A chave é a seguinte: o apoio ao direito inalienável de uma publicação formular seus próprios julgamentos editoriais não te obriga a fazer eco destes julgamentos". "Dito de outra maneira, defender o direito de alguém de dizer o que quiser não te obriga a repetir suas palavras", escreveu o The Guardian, depois que muitos militantes da liberdade de imprensa condenaram jornais ocidentais por não publicar os polêmicos desenhos da Charlie Hebdo sobre o profeta Maomé.
O massacre de 12 pessoas no ataque à revista, unido ao assassinato de uma policial e a uma tomada de reféns em um mercado judaico onde outras quatro pessoas morreram, levaram às ruas de Paris um milhão e meio de pessoas no domingo. Entre os presentes na inédita marcha havia mais de cinquenta líderes de todo o mundo.
A foto de família destes líderes não convenceu a todos. Daniel Wickman, estudante da London School of Economics, publicou uma série de tuítes muito citados na imprensa nos quais acusa muitos dos líderes presentes na manifestação de ataques à liberdade de imprensa. "Aqui estão alguns dos firmes defensores da liberdade de imprensa, participando da marcha de solidariedade de Paris no dia de hoje", escreveu o jovem com ironia, citando uma série de detenções e agressões a repórteres em muitos dos países representados na manifestação.
Vários jornais asiáticos, sobretudo em países com uma ampla população muçulmana ou onde o governo exerce a censura, condenaram o massacre na Charlie Hebdo, mas argumentaram que a liberdade de imprensa tem limites.
O artigo afirma que a Charlie Hebdo divulgou um discurso incendiário, amplificado por "sua posição de forte influência" no mundo midiático. "A Charlie Hebdo tinha seguidores e não pode difundir impunemente o que equivale a uma mensagem de ódio. O que é uma caricatura do profeta Maomé nu?", se pergunta o New Straits Times. O Global Times da China, um país acusado de reprimir sua minoria muçulmana, os uigures, argumentou em seu editorial que "a comunidade internacional deve defender o direito dos editores da revista a sua segurança pessoal, o que não significa que deva se alinhar com suas controversas vinhetas".
Outros, por sua vez, são mais categóricos. Art Spiegelman, conhecido por sua história gráfica "Maus", sobre o Holocausto, denunciou a hipocrisia de grande parte da imprensa americana por não publicar caricaturas da Charlie Hebdo.
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