"Histórica", "inesquecível", de Londres a Argel, de Madri a Tel Aviv, a imprensa mundial saudou nesta segunda-feira a demonstração de solidariedade e unidade dos franceses após os atentados jihadistas que abalaram o país na semana passada, apesar de algumas notas dissonantes em países muçulmanos. "Um cortejo fúnebre como nunca antes" (Frankfurter Allgemeine Zeitung), "dia histórico" (Financial Times) ou simplesmente "magnífico" (Daily Mirror), todos os jornais europeus dedicavam sua primeira página à maré humana que invadiu Paris e as grandes cidades francesas no domingo.
Uma imagem impactou especialmente os meios de comunicação alemães: "Um gesto para a eternidade: Angela Merkel se volta com os olhos fechados na direção de François Hollande, em uma tristeza cheia de compaixão", descreve o jornal popular Bild. Um instante que "mostra o que a Alemanha sente quando a França tem medo", acrescenta.
No Reino Unido, o sensacionalista The Sun, geralmente disposto a criticar seus vizinhos, proclama em francês: "Eu sou 4 milhões". "O povo da França demonstrou no domingo um espírito de unidade e uma força inesquecível em resposta à mortífera violência", escreveu o Financial Times em seu editorial. Espanha e Itália coincidiram em suas manchetes: "Unidos pela liberdade" (El País), "Paris, capital da liberdade" (El Mundo e La Stampa), "A revolta de Paris: 'Liberdade'" (La Repubblica).
Todos de pé
Na Bélgica, apenas uma palavra na primeira página do jornal Le Soir: "Livres". Em seu editorial, a publicação afirmou que os franceses interpuseram um "escudo humano (...) entre nosso terror e o horror". "Estamos todos de pé", afirma o La Libre Belgique; "Não temos medo", proclama o flamengo De Standaard. Na Argélia, um país atingido com frequência por atentados, o influente El Watan afirma "Paris do front mundial" contra o terrorismo. Para o Liberté, é "a marcha que vai mudar tudo", "um ato fundador da nova estratégia mundial da luta antiterrorista".
Outros jornais pan-árabes saúdam "Paris, capital do mundo contra o terrorismo, como o AlSharq al-Awsat ou o Al-Hayat, que intitula: "Três milhões de pessoas participam de uma intifada (levante) da França e do mundo contra o terrorismo". Em Israel, o editorialista estrela do Yediot Aharonot acreditava ter assistido à "mãe de todas as manifestações", impressionado, assim como o resto da imprensa de seu país, pelo número de participantes e pela ausência de lemas hostis no cortejo.
Mesma emoção na Ásia, onde todos os grandes jornais de Cingapura dedicavam sua primeira página aos acontecimentos franceses. Nos Estados Unidos, os editoriais renderam tributo à França, destacando, em particular, a solidariedade criada. Mas vários criticaram a administração americana, escassamente representada, principalmente a ausência de Barack Obama.
Carnaval do engano
No mundo muçulmano ocorreram reações divergentes sobre a presença do primeiro-ministro israelense na marcha de Paris mas, em particular, sobre os limites da liberdade de expressão em relação às caricaturas de Maomé publicadas pela Charlie Hebdo.
Na Malásia, o New Straits Times, jornal em inglês que reflete a posição oficial, afirmou em um editorial intitulado "os riscos da liberdade de expressão" que a Charlie Hebdo "não pode propagar impunemente o que parece ser uma mensagem de ódio".
No Irã, os meios de comunicação conservadores condenaram a dupla linguagem dos ocidentais ante o terrorismo e a presença de Netanyahu em Paris. "Marcha em Paris contra o terrorismo: De verdade ou pela pose?", afirmou o jornal ultraconservador Siasat-é Rooz.
Um dos principais jornais russos, Kommersant, insistiu na exclusão da Frente Nacional da manifestação. Segundo esta publicação, é um presente para o partido de extrema-direita porque o dispensou de prestar homenagem a uma revista que tinha o FN entre seus alvos principais.
Muitos editorialistas se perguntavam, por sua vez, sobre as consequências políticas deste dia de importância mundial. "Esta comunidade não deve desaparecer quando a sensação de ameaça se enfraquecer", advertiu o Frankfurter Allgemeine Zeitung. O Independent britânico convocou o governo francês a "não ter pressa para instaurar uma nova legislação como resposta aterrorizada ao horror de Paris".