O jornal volta a escolher uma caricatura do profeta, desta vez assinada pelo cartunista Luz, para um número especial com tiragem de três milhões de exemplares, que será publicado na quarta-feira, após o atentado jihadista de 7 de janeiro contra sua sede, que matou 12 pessoas, entre elas 5 chargistas.
Este número, denominado "dos sobreviventes" - Luz foi um dos cartunistas que escaparam da chacina da última quarta-feira - terá três milhões de exemplares, contra os 60 mil normalmente impressos, e vendido em 25 países. Seu distribuidor já recebeu uma avalanche de pedidos da França e do exterior, e por isso decidiu ampliar para 3 milhões a tiragem desta edição especial, inicialmente prevista para 1 milhão de exemplares.
Após os ataques de terroristas contra a sede da revista, na última quarta-feira, vários jornais da França e do mundo ofereceram apoio estrutural e financeiro para que os profissionais do Charlie Hebdo continuassem desenvolvendo a próxima edição, que terá o número 1178. A direção do periódico francês aceitou a oferta para usarem as instalações do jornal Libération, também em Paris, retomando os trabalhos já na sexta-feira.
Mais cedo, o advogado da publicação, Richard Malka, afirmou que o próximo número do jornal, preparado pelos sobreviventes do sangrento atentado, manterá as críticas a políticas e religiões e incluirá caricaturas de Maomé. "Não cederemos em nada, senão tudo isto não faria sentido", acrescentou.
O Charlie Hebdo "dos sobreviventes", elaborado na sede do jornal Libération, será "traduzido para 16 idiomas", acrescentou o médico e cronista Patrick Pelloux.
No dia seguinte às manifestações que levaram para as ruas de várias cidades francesas quase quatro milhões de pessoas, em repúdio aos atentados e em defesa da liberdade de expressão, os autores do próximo número mantinham firmemente sua linha editorial. "Rimos de nós mesmos, das políticas, das religiões, é um estado de espírito", explicou o advogado.
Para Malka, "nunca temos o direito de criticar um judeu por ser judeu, um muçulmano por ser muçulmano, um cristão por ser cristão, mas podemos dizer tudo o que quisermos, as coisas mais horríveis, e as dizemos sobre o cristianismo, o judaísmo e o Islã, porque além da unidade dos belos lemas, esta é a realidade do Charlie Hebdo".
Em 2006, o Charlie Hebdo reproduziu as caricaturas de Maomé cuja publicação no jornal dinamarquês JyllandsPosten desencadeou violentos protestos. A partir de então, o jornal satírico francês sofreu um incêndio criminoso e várias ameaças. Na última quarta-feira, os dois jihadistas que mataram 12 pessoas na sede do jornal saíram gritando, "Vingamos o profeta! Matamos o Charlie Hebdo!".
O número de quarta-feira está sendo preparado exclusivamente por membros da equipe do jornal e não incluirá desenhos de cartunistas externos que publicaram incontáveis esboços em homenagem às vítimas depois do atentado.
Ainda nesta segunda-feira, a França anunciou a mobilização de uma força sem precedentes de 10 mil soldados para aumentar a segurança, inclusive em escolas judaicas.
Um prêmio à coragem jornalística
Nos Estados Unidos, o Clube de Imprensa de Los Angeles anunciou, também nesta segunda-feira, que o jornal receberá este ano o prêmio Daniel Pearl à coragem e à integridade jornalística. O anúncio foi feito na presença dos pais do jornalista americano, assassinado em 2002 no Paquistão.
"Nenhum ato terrorista deve frear a liberdade de expressão.
O editor-chefe do jornal, Gerard Biard, disse se sentir "profundamente honrado" em receber este tributo. "Evidentemente, vamos aceitá-lo", afirmou. O prêmio será entregue pelos pais de Pearl, Ruth e Judea, em 28 de junho, durante um jantar no hotel Biltmore de Los Angeles.
Nas últimas edições, o prêmio recompensou o correspondente da emissora NBC Richard Engel pela cobertura em conflitos no Oriente Médio; Bob Woodruff, ferido em 2006 quando fazia reportagens sobre a guerra no Iraque, e a jornalista russa assassinada Anna Politkovskaya.
"Choramos e estamos unidos ao povo francês e com as famílias das vítimas do massacre de Paris", afirmaram Ruth e Judea no mesmo comunicado. "Os corações valentes do Charlie Hebdo protegeram nossa liberdade durante várias décadas. Agora, nosso dever é proteger sua visão para as próximas gerações", acrescentaram.
(Com AFP).