Milhares de judeus franceses e israelenses participaram nesta terça-feira em Jerusalém do enterro dos quatro homens mortos em Paris em um mercado kasher, com uma sensação de que novas tragédias irão ocorrer. Yohav Hattab, Yohan Cohen, Philippe Braham e François-Michel Saada foram enterrados no cemitério de Har Hamenouhot (Monte do Repouso), no mesmo local onde descansam as três crianças e o professor judeu mortos na França em 2012 por outro jihadista, Mohamed Merah.
Apenas os parentes mais próximos colocaram no solo os corpos, envolvidos em talits (chales de oração) brancos e azuis. Centenas de judeus acompanharam à distância o funeral. Pouco antes, cerca de 2.500 pessoas participaram de uma cerimônia na presença dos pais das vítimas, de autoridades e de anônimos franceses e israelenses.
A cerimônia deu lugar a declarações oficiais sobre a determinação em lutar contra o antissemitismo e o terrorismo, da parte de líderes israelenses e da ministra francesa Ségolène Royal, representando seu país. "Philippe, proteja-me, proteja Shirel e Naor e Ella e Elad", disse Valérie Braham, esposa de Philippe Braham, muito emocionada, falando de seus filhos.
A França, terra hostil?
Yohav Hattab, de 21 anos, Yohan Cohen, de 23 anos, Philippe Braham, de 45 anos, e Francois-Michel Saada, de 64 anos, estão entre as 17 pessoas mortas nos atentados que chocaram a França. Eles não eram israelenses, mas sua morte na sexta-feira durante uma tomada de reféns no mercado Hyper Cacher, em Vincennes, comoveu Israel. Originário de Sarcelles, ao norte de Paris, Yohan Cohen trabalhava no mercado há um ano. As outras três vítimas, judeus praticantes, faziam suas compras antes do shabbat.
O estudante tunisiano Yohav Hattab foi morto ao se lançar contra o jihadista Amedy Coulibaly, segundo várias testemunhas.
Duas horas antes de ser morto pela polícia francesa durante o ataque à loja kasher, Coulibaly havia contactado o canal de notícias BFMTV. Ele alegou pertencer ao grupo Estado Islâmico e disse que atacaria judeus propositadamente por causa da "opressão" perpetrada contra os muçulmanos e palestinos. "Não podemos permitir que, em 2015, 70 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, os judeus tenham medo de andar pelas ruas na Europa vestindo kipá e tzitzit", afirmou nesta terça-feira o presidente israelense, Reuven Rivlin.
Emigrar, sim, mas não por medo
Com meio milhão de membros, a comunidade judaica da França é a terceira maior do mundo, atrás de Israel e dos Estados Unidos. Mas em 2014 e pela primeira vez, a França foi o primeiro país de emigração para Israel, com a partida de mais de 6.600 judeus.
Após os atentados da última semana, Paris mobilizou milhares de policiais e guardas adicionais para proteger as escolas judaicas e sinagogas. "Eu quero garantir a vocês a determinação inabalável do governo francês para lutar contra todas as formas de atos antissemitas", declarou Sègolenè Royal. No entanto, muitos recordam que há três anos estavam no mesmo local para enterrar as vítimas de Merah. E no mesmo cemitério há um outro símbolo da violência antissemita, Ilan Halimi, um jovem torturado por três semanas por uma gangue em 2006, perto de Paris.
Dirigindo-se aos judeus, Netanyahu declarou no domingo em Paris que eles "têm o direito de viver em segurança, onde escolherem, em particular na França". Em seguida, garantiu que "todos os judeus e todas as judias que desejarem emigrar para Israel serão recebidos de braços abertos, com todo nosso calor". Sègolenè Royal, no entanto, reiterou em Jerusalém a resposta do primeiro-ministro francês Manuel Valls, que disse que "a França sem os judeus da França não é a França".
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