Duas comissões do Senado argentino começam nesta terça-feira a debater a dissolução da Secretaria de Inteligência (SI), projeto da presidente Cristina Kirchner, em reação às obscuras manobras vinculadas à morte do promotor que investigava o atentado contra a organização mutual judaica em 1994.
A inciativa cria uma nova Agência Federal de Inteligência (AFI), sem o poder que tinha a SI nas escutas telefônicas nem sua influência sobre os casos de perfis políticos que são ouvidas nos tribunais.
A presidente fundamentou a medida como "uma dívida da democracia", em virtude de que ainda operam ex-agentes da ditadura (197-1983) e inclusive novos agentes que utilizam seus métodos.
O Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), ONG dedicada à defesa dos direitos humanos, apoiou a reforma por tirar poder dos espiões, mas advertiu que "não se reformula a relação promíscua que existe com a justiça federal".
O CELS disse que criar a AFI é ficar "na metade do caminho da incorporação de controles políticos, parlamentares e judicias às tarefas de inteligência".
A razão pela qual agora o kirchnerismo (peronismo de centro-esquerda) lança a reforma após 12 anos no poder é a suspeita de uma vingança de ex-funcionários da SI afastados no último 17 de dezembro.
A oposição vinha reclamando de forma unânime uma reforma nos desacreditados serviços de inteligência, mas agora se opõem.
O senador opositor social-democrata Luis Juez disse em coletiva de imprensa que "todos os governos os utilizaram (os agentes) para negócios inconfessáveis".
"Se o que se pretende com o projeto da AFI é mudar o nome da atual SI e transferir as escutas telefônicas para a Procuradoria Geral, o projeto está destinado ao fracasso", disse Roberto Basualdo, peronista de centro-direita.
Uma marcha de setores da esquerda foi convocada para esta quarta-feira para reclamar uma comissão independente que investigue todos os casos.
O governo confia que a criação da AFI seja aprovada em menos de um mês, com a maioria que dispõe em ambas câmaras.
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