O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou o ataque contra o Museu Bardo em Túnis, que deixou 21 mortos na quarta-feira, um ataque que pode desestabilizar a jovem democracia tunisiana.
O ataque, o mais mortal conduzido pelo EI contra ocidentais, foi reivindicado em uma mensagem de áudio postada na internet. O grupo extremista sunita, que possui centenas de combatentes tunisianos sem suas fileiras, ameaçou a Tunísia com novos ataques.
Descrevendo o atentado contra o museu com um "ataque abençoado contra um dos lares infiéis na Tunísia muçulmana", a voz diz que a operação sangrenta foi realizada por "dois cavaleiros do califado, Abu Zakaria al-Tunsi e Abu Anas al-Tunsi".
Eles estavam "armados com armas automáticas e bombas" e "conseguiram cercar um grupo de cidadãos de países cruzados, semeando o terror nos corações dos infiéis".
O ataque atingiu o mais importante museu do país, matando 21 pessoas, segundo o último balanço oficial. Dezessete foram identificados, incluindo três japoneses, dois espanhóis, dois franceses, um colombiano, um australiano, uma britânica, uma belga, um polonês, quatro italianos e o policial local, segundo o governo da Tunísia.
Segundo o governo colombiano, um segundo cidadão daquele país também teria morrido no ataque, o que as autoridades tunisianas não confirmam.
Parte das vítimas eram passageiros de cruzeiros ancorados em Túnis. Os turistas foram alvejados quando desciam do ônibus e entravam no museu, onde foram perseguidos.
As autoridades anunciaram a morte de dois criminosos, identificados como Yassine Abidi e Hatem Khachnaoui, e a detenção de nove suspeitos, entre eles "quatro elementos que teriam tido um envolvimento direto" no ataque.
Em razão das "circunstâncias excepcionais", o exército participará de patrulhas nas grandes cidades, segundo a presidência.
Nesta quinta-feira, o atual primeiro-ministro Habib Essid admitiu durante uma coletiva de imprensa a existência de "falhas no sistema de segurança", enquanto o ataque ocorreu em plena audiência na Assembleia sobre as acusações militares e da justiça envolvendo a reforma da lei antiterorrista, planejada há meses, mas constantemente adiada.
Única boa notícia desta tragédia, dois turistas espanhóis foram reencontrados no museu onde passaram a noite escondidos com a ajuda de um funcionário.
'Terrorismo externo'
Condenado pela comunidade internacional, o atentado provocou forte comoção na Tunísia e vários apelos por unidade.
No final da tarde desta quinta, 200 pessoas compareceram a uma concentração silenciosa em frente ao museu do Bardo.
"A Tunísia é livre, fora os terroristas", gritavam. Flores foram depositadas nas entrada do museu, onde ainda era possível ver traços de sangue.
O principal sindicato, a UGTT, convocou "as forças do povo e todos os órgãos de Estado a se mobilizar e declarar guerra ao terrorismo".
O presidente Béji Caïd Essebsi prometeu, por sua vez, que "os traidores serão aniquilados".
O ataque ao Bardo é o pior desde o ataque suicida, reivindicado pela Al-Qaeda, contra uma sinagoga em Djerba (sul), que matou 14 alemães, dois franceses e cinco tunisianos, em 2002.
É também a primeira vez desde a revolução de janeiro 2011 que os estrangeiros são visados neste país, que se tornou- um modelo de estabilidade e de abertura no mundo árabe.
'Impacto econômico'
O governo tunisino descreveu como "terrível o impacto econômico" para o país: o turismo, já em crise, é um dos setores estratégicos.
A primeira consequência econômica do ataque foi o cancelamento por parte das companhias italianas MSC e Costa Cruzeiros de todas as escalas de seus navios previstas em Túnis.
Dois meses e meio após os ataques jihadistas em Paris, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, é esperado na sexta-feira em Túnis para discutir a cooperação contra o terrorismo.
A Itália já anunciou um reforço de seus recursos no Mediterrâneo.
Desde 2011, a Tunísia combate grupo jihadista vinculado à Al-Qaeda no Magreb Islâmico, a Falange Okba Ibn Nafaa, que até a data havia concentrado suas atividades na fronteira com a Argélia.
Além disso, ao menos 500 tunisianos, ex-combatentes no Iraque, Síria ou Líbia nas fileiras de organizações jihadistas como o Estado Islâmico, voltaram ao país.
O EI, que espalha terror nos territórios que controlam no Iraque e na Síria, não esconde sua ambição de expandir seu "califado" para outros países islâmicos da região árabe e até na África.