Os presidentes de Estados Unidos e Cuba, Barack Obama e Raúl Castro, estão na iminência de um encontro histórico, durante a Cúpula das Américas no Panamá, após mais de cinco décadas de congelamento nas relações entre os dois países. O encontro, possivelmente no sábado, ocorre menos de quatro meses após o anúncio - no dia 17 de dezembro - do início do processo de normalização das relações entre Estados Unidos e Cuba, rompidas dois anos após Fidel Castro chegar ao poder, em 1959.
"Claro que prevemos esta oportunidade para que se encontrem durante a Cúpula amanhã (...), que tenham uma reunião", disse nesta sexta-feira no Panamá Ben Rhodes, assessor de Obama, horas antes da abertura do fórum hemisférico. Como preâmbulo, os dois líderes conversaram por telefone na quarta-feira: "posso confirmar que o presidente Obama falou com o presidente Castro na quarta, antes de o presidente partir de Washington", disse uma fonte da Casa Branca.
Obama e Raúl Castro se sentarão na mesa de diálogo da Cúpula na noite desta sexta-feira, no primeiro encontro entre presidentes de Estados Unidos e Cuba desde 1956, quando Dwight Eisenhower e Fulgencio Batista se reuniram no Panamá. Na noite de quinta-feira, o secretário americano de Estado, John Kerry, se reuniu com o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, no primeiro encontro bilateral de alto nível em mais de 50 anos.
Um funcionário da diplomacia americana destacou avanços no encontro histórico. "O secretário Kerry e o ministro cubano das Relações Exteriores Rodriguez tiveram uma prolongada e construtiva conversa. Ambos concordaram que foram feitos progressos e que continuaremos trabalhando para resolver os temas pendentes", disse a fonte do Departamento de Estado.
O encontro anterior entre os chefes da diplomacia de Washington e Havana remontava a setembro de 1958, lembraram funcionários americanos. Ainda na quinta-feira, o Departamento de Estado recomendou a retirada de Cuba da lista de países que supostamente financiam o terrorismo, um dos passos necessários para a normalização diplomática bilateral.
Ao anunciar o início da aproximação com Havana, Barack Obama tinha pedido ao departamento de Estado que revisasse a presença de Cuba na lista, segundo a legislação vigente. Cuba integra a lista, que inclui ainda Irã, Síria e Sudão, desde 1982.
Havana deixou claro que considera prioritário que o país seja retirado da lista para que avancem as negociações sobre o restabelecimento das relações diplomáticas e a reabertura de embaixadas.
Em visita à Jamaica, na quinta-feira, Obama destacou que o processo de negociações "levará tempo". "Nunca previ que tudo pudesse mudar do dia para a noite". Mas o presidente também avisou que vai à cúpula com "uma mensagem de diálogo". Um dos objetivos imediatos da agenda de aproximação é o restabelecimento dos laços diplomáticos e a abertura das embaixadas. No momento, Havana e Washington têm Seções de Interesses, um status diplomático excepcional que os dois países mantêm nas duas capitais desde 1977, sob os auspícios da Suíça.
Entre os pontos de maior polêmica estão as indenizações para as empresas americanas nacionalizadas após a Revolução Cubana nos anos 60; e a exigência de Havana de uma compensação pelas perdas provocadas pelo embargo comercial imposto por Washington à Ilha a partir de 1962, que segundo o governo teria provocado um prejuízo de 116 bilhões de dólares.
Havana também quer a devolução da base naval de Guantánamo, no extremo leste da Ilha, que os Estados Unidos ocupam desde 1903, mas este é um tema tabu para Washington, especialmente porque Obama ainda precisa fechar o centro de detenção que funciona na base, onde permanecem mais de 100 prisioneiros da "guerra contra o terror".