As equipes de resgate começaram a entregar ajuda nesta terça-feira às vítimas do terremoto nas áreas mais remotas do Nepal, após o terremoto que deixou mais de 5.000 mortos e afetou oito milhões de pessoas.
O governo do Nepal decretou três dias de luto pelas vítimas do tremor e agradeceu as doações internacionais.
"Em memória dos irmãos e irmãs nepaleses e estrangeiros, dos idosos e das crianças, que perderam suas vidas neste terremoto devastador, nós decidimos respeitar três dias de luto nacional a partir de hoje", afirmou o primeiro-ministro Sushil Koirala em um discurso exibido na televisão.
Em Gorkha, um dos distritos mais devastados pelo tremor, um correspondente da AFP observou de um helicóptero do exército indiano os moradores com os braços para o alto, em um apelo desesperado por água e comida, em meio a casas destruídas e pilhas de escombros.
"A terra continua tremendo, inclusive esta manhã.
Aviões militares de vários países, entre eles Estados Unidos, China e Israel, participam nas tarefas de resgate.
O balanço oficial de vítimas é de 5.057 mortos e 10.000 feridos, anunciou o ministério do Interior. A ONU calcula em oito milhões o número de pessoas afetadas pela tragédia.
Esta é a maior catástrofe no Nepal nos últimos 80 anos. O terremoto também afetou a Índia, onde morreram 73 pessoas, e a região chinesa do Tibete, com 25 mortos.
"Recebemos pedidos de ajuda de todas as partes, mas ainda não conseguimos iniciar o resgate em muitas áreas porque não temos equipamento e socorristas com experiência", admitiu o primeiro-ministro Koirala, para quem a ajuda às vítimas representa um "enorme desafio".
O terremoto também provocou uma avalanche no Everest, o que sepultou com neve e rochas uma parte do campo base em plena temporada de escalada e deixou 18 mortos.
Além disso, cerca de 250 pessoas se encontram desaparecidas depois que um deslizamento de terra arrasou Langtang, uma área do Nepal muito popular para quem gosta de fazer trilhas.
Um comandante do exército nepalês, Jagdish Chandra Pokherel, afirmou à AFP: "Vamos demorar muito tempo a chegar às zonas mais remotas e sem estar lá fisicamente não poderemos ajudar nem resgatar as pessoas".
O Fundo Central da ONU para a Ação em Casos de Emergência (CERF) disponibilizou nesta terça-feira 15 milhões de dólares para financiar a ajuda humanitária. Washington prometeu 10 milhões de dólares, o Japão oito e a a Austrália 4,7 milhões.
Medo e confusão
Em Katmandu, milhares de pessoas começaram a sair da cidade em ônibus lotados, com passageiros no teto e com o objetivo de retornar para suas cidades de origem.
Longas filas também são observadas nos postos de gasolina e nos mercados, invadidos por pessoas desesperadas em busca de produtos básicos como arroz ou óleo de cozinha.
As pessoas que decidiram permanecer em Katmandu dormiram em barracas improvisadas nas ruas, já que perderam as casas ou por medo dos tremores secundários.
"Há muito medo e confusão", disse Bijay Sreshtha, que fugiu de casa após o terremoto e passou os últimos dias em um parque com a mulher, os três filhos e a mãe.
"Estamos aqui há três dias, vivendo debaixo de lonas. Contamos cada pedaço, cada gota de água", disse Rama Shrestha, uma dona de casa de 28 anos que está ao relento com o filho de cinco anos.
"E agora começou a chover. O que podemos fazer, para onde podemos ir? Estamos muito assustados para voltar para casa", afirma.
Os hospitais e necrotérios da cidade estão lotados e os médicos trabalham sem direito a descanso para atender as vítimas, muitas delas com traumas e fraturas múltiplas.
O terremoto também representa um duro golpe para a economia do Nepal, um dos países mais pobres do mundo, que ainda se recupera de uma guerra civil de 10 anos, encerrada em 2006.
O Nepal e a cordilheira do Himalaia ficam no ponto de contato entre as placas tectônicas indiana e euroasiática, uma área de forte atividade sísmica.
Em agosto de 1988, um terremoto de 6,8 graus de magnitude deixou 721 mortos no leste do Nepal.
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