A Indonésia executou nesta quarta-feira (terça-feira no Brasil) oito condenados à morte por tráfico de drogas, incluindo o brasileiro Rodrigo Gularte, e o governo brasileiro está avaliando como prosseguirá sua relação com o país asiático depois do cumprimento da sentença.
Segundo o ministro interino das Relações Exteriores, Sérgio França Danese, Brasília está "avaliando" como prosseguirá sua relação com a Indonésia após a morte de Gularte, o segundo cidadão brasileiro executado por narcotráfico na nação asiática.
Em coletiva de imprensa, em Brasília, Danese disse que o Brasil pôs em análise seus vínculos com a Indonésia e que, depois de tantas apelações infrutíferas de clemência, está "justamente procedendo a esta avaliação de qual será a atitude com relação a este país".
Atualmente, as relações diplomáticas entre os dois países se mantêm em nível de encarregados de negócios, desde o fuzilamento, em janeiro, de outro brasileiro, Marco Archer Moreira, também condenado por tráfico de drogas.
Após a morte de Archer, a presidente Dilma advertiu que haveria consequências nas relações bilaterais. Pouco depois da aplicação da sentença, a chefe de Estado, que ainda não nomeou um novo embaixador em Jacarta, rechaçou as credenciais do diplomata proposto por Jacarta.
Danese disse que não há previsão de "mudanças nas embaixadas".
Em nota publicada nesta terça-feira, a Presidência da República anunciou ter recebido "com profunda consternação a notícia da execução" de Gularte, de 42 anos, uma sentença aplicada depois da meia-noite na Indonésia (14H00 de Brasília).
Gularte foi preso em 2004, ao tentar entrar no aeroporto de Jacarta com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe. Apesar dos boletins médicos para demonstrar que ele sofria de esquizofrenia e não poderia ser executado, a promotoria declarou não haver impedimentos para avançar no processo e o brasileiro foi morto junto com um cidadão indonésio e outros seis estrangeiros - dois australianos e quatro africanos -, todos condenados por tráfico de drogas.
Depois da morte de seus cidadãos, Myuran Sukumaran e Andrew Chan, a Austrália anunciou que chamará para consultas seu embaixador em Jacarta.
"Respeitamos a soberania da Indonésia, mas condenamos o que aconteceu", disse o premiê australiano, Tony Abbott, que anunciou a medida como um gesto às famílias dos executados.
Sem clemência
As execuções aconteceram na prisão da ilha de Nusakambangan, apesar das pressões internacionais e dos pedidos de clemência de familiares. Só uma cidadã filipina acabou sendo poupada na última hora.
"Os milagres se tornam realidade!" - declarou à rádio DZMM Celia Veloso, mãe da condenada Mary Jane Veloso, que acabou sendo poupada. "Estamos tão felizes. Não posso nem acreditar. Minha filha continua viva".
Os familiares dos condenados foram vê-los pela última vez nesta terça-feira em Nusakambangan, "a Alcatraz indonésia".
"Não voltarei a vê-lo. Eles o levarão à meia-noite e o fuzilarão", indicou antes do anúncio à imprensa Raji Sukumaran, mãe do australiano Sukumaran, de 34 anos.
Os condenados receberam a notificação da execução na noite de sábado, com um pré-aviso de ao menos 72 horas.
Também condenado à morte por tráfico de drogas, o francês Serge Atlaoui, de 51 anos, foi retirado no fim de semana da lista de execuções iminentes em consequência de um recurso judicial.
Mas o porta-voz do procurador-geral indonésio, Tony Spontana, reafirmou nesta terça-feira à AFP que se o recurso for rejeitado, Atlaoui será executado sozinho, em uma tentativa de não gerar expectativas.
O presidente indonésio, Joko Widodo, intransigente sobre a aplicação da pena de morte por tráfico de drogas, ignora os apelos de clemência e as pressões diplomáticas internacionais para evitar as execuções.
Nesta terça-feira, Austrália, União Europeia e França realizaram um pedido conjunto à Indonésia e apontaram que uma ação deste tipo terá um impacto em sua reputação internacional.
O condenado australiano Andrew Chan, de 31 anos, se casou na segunda-feira com a namorada indonésia, durante uma cerimônia com parentes e amigos no complexo penitenciário, seu último desejo.
O presidente indonésio alega que o país enfrenta uma situação de emergência ante o problema das drogas e precisa de uma "terapia de choque".
A pena capital por narcotráfico ou até mesmo pela posse de pequenas quantidades de droga também é aplicada em outros países do sudeste da Ásia, como Malásia, Vietnã, Tailândia e Cingapura.