Considerada uma das maiores bailarinas do século XX, a russa Maya Plisetskaya, de 89 anos, morreu neste sábado, vítima de um ataque cardíaco fulminante, anunciou o diretor do teatro Bolshoi, Vladimir Urin.
"Ela morreu vítima de um ataque cardíaco fulminante.
O diretor do Bolshoi contou ter sido informado pelo marido da bailarina, o célebre compositor russo Rodion Shchedrin, de que Plisetskaya faleceu na Alemanha, onde o casal tinha uma residência.
"Algumas semanas atrás, nós nos reencontramos. Ela estava saudável, fazia brincadeiras, mas bom, aconteceu, o coração da maior entre todas as bailarinas parou", declarou Urin à agência RIA Novosti.
"Não apenas a Rússia, mas o mundo inteiro sabia: Maya Plisetskaya foi o símbolo do balé russo do século XX", concluiu.
Por meio de um comunicado de seu serviço de imprensa, o presidente russo, Vladimir Putin, expressou suas condolências à família.
Plisetskaya dançou por meio século e levou ao tradicional balé soviético coreografias modernas e apresentações carregadas de erotismo.
Nascida em 20 de novembro de 1925, em Moscou, teve o pai, engenheiro, assassinado durante o regime stalinista em 1938 e sua mãe, uma atriz, foi acusada de traição e enviada a um campo de trabalhos forçados no Cazaquistão.
Maya ingressou no Bolshoi em 1943. Durante 50 anos, ela cativou as plateias com a pureza de suas apresentações e seu olhar desconcertante.
Conhecida como "a rainha do ar", ela conquistou um de seus primeiros êxitos com a representação, em 1947, de "O lago dos cisnes".
Graças à sua versatilidade, pôde interpretar personagens tão diversos como a czarina enlouquecida de "A fonte de Bajchisarai", a perversa Kitri de "Dom Quixote", "Carmem", e "Ana Karenina".
Em 1967, escandalizou seus companheiros após um encontro, em Moscou, com o coreógrafo cubano Alberto Alonso que, como cidadão de um país comunista amigo, teve permissão para criar a Suíte de Carmen para ela.
"Carmen - em que todo gesto, todo olhar, todo movimento tinha um significado - era diferente de todos os outros balés... A União Soviética não estava preparada para este tipo de coreografia", declarou Plisetskaya a respeito do ocorrido.
"Foi uma guerra, eles me acusaram de trair a dança clássica", prosseguiu.
Mas a ousadia valeu a pena.
Em 2005, Plisetskaya foi contemplada, juntamente com a também bailarina espanhola Tamara Rojo, com o prêmio Príncipe de Astúrias das Artes. As duas foram consideradas as "mais brilhantes bailarinas da história da dança".
O júri entendeu que Plisetskaya havia "transformado a dança em uma forma de poesia em movimento, ao conjugar a rara qualidade técnica com a sensibilidade artística e humana".
Em seu 80º aniversário, também em 2005, ela interpretou no Kremlin o "Ave Maya", dedicado a ela pelo coreógrafo francês Maurice Béjart, coroando uma noite mágica que contou com a presença de bailarinos clássicos de todo o mundo, monges shaolin, a orquestra do Exército russo Alexandrov e o rei do flamenco Joaquín Cortés.
Uma homenagem que resumiu bem a carreira e o caráter da "Prima ballerina assoluta", uma distinção suprema que o Bolshoi só concedeu duas vezes em sua história.
"Maya Plisetskaya assimilou uma grande tradição, a dirigiu e reciclou, alcançando a liberdade. Independentemente do que dance, sinto nela uma força vital enorme, a sensualidade, mas, sobretudo, a modernidade", definiu Maurice Béjart.
Para o coreógrafo, Maya Plisetskaya era a "última lenda viva da dança".
"O essencial é ser uma artista e compreender porque você está no palco.