Jornal Estado de Minas

Institutos de pesquisa: os grandes perdedores das eleições britânicas

AFP

A vitória dos conservadores por ampla margem nas eleições legislativas britânicas significa um estrondoso fracasso não apenas para o Partido Trabalhista, como também para os institutos de pesquisa, que erraram feio em suas previsões.

"Os institutos deveriam se entrevistar entre si para ver o que não funcionou", ironizou o prefeito conservador de Londres, Boris Johnson, com seu sarcasmo habitual.

Há meses, os institutos previam uma briga acirradíssima, com um empate quase absoluto entre os "tories" e os trabalhistas.

Na véspera da eleição, YouGov, ICM e Survation decretaram empate técnico nas urnas.

As empresas TNS, Opinium e Comres davam aos conservadores um ponto de vantagem, e a Panelbase colocava os trabalhistas dois pontos à frente.

Todos os jornais seguiam essa tendência e destacavam um final bastante apertado.

A surpresa foi geral após a divulgação das primeiras pesquisas de boca de urna, desta vez incontestáveis: 77 cadeiras de vantagem para os conservadores.

"Se essas estimativas se confirmarem, eu dou minha cara a tapa", chegou a dizer Paddy Ashdown, o ex-líder dos democratas-liberais, completamente desnorteado.

À medida que a noite avançava, essas projeções se confirmavam. Os conservadores ganharam com folga, e os institutos de pesquisa ficaram perdidos.

"Estou perplexo", reagiu o presidente do YouGov, Peter Kellner.

De acordo com o jornal sensacionalista "The Sun", o YouGov teria até voltado a entrevistar seis mil pessoas na quinta-feira na saída das urnas, corroborando o empate, com 34% para conservadores e para trabalhistas.

"A noite não foi formidável nem para os institutos de pesquisa, nem para os analistas. Pede-se a necropsia", tuitou Lorde Michael Aschcroft, um milionário especialista em sondagens locais.

Pior derrota desde 1992

Para os institutos, trata-se do pior vexame desde o incrível fiasco de 1992, quando deram a vitória ao trabalhista Neil Kinnock, no lugar do conservador John Major, que se manteve no cargo de primeiro-ministro.

Em 2010, acertaram ao prever, com exatidão, um governo de coalizão entre conservadores e democratas-liberais.

O instituto Populus foi o primeiro a admitir o golpe.

"O resultado das eleições exige uma reavaliação de todos os institutos de pesquisa. Vamos rever nossos métodos e pedir ao British Polling Council (BPC) que faça uma auditoria", afirmou um representante do Populus em uma nota.

O BPC reagiu, anunciando a abertura de uma investigação independente. "As últimas pesquisas de opinião antes da eleição claramente não eram tão precisas quanto teríamos desejado", reconheceu.

"Despertar tardio do eleitorado conservador? Problema de metodologia? Haverá tempo para analisar", comentou o cientista político Tony Travers, da London School of Economics (LSE).

Uma das possíveis explicações é que os conservadores, tradicionalmente um eleitorado tímido na hora de manifestar suas preferências antes de uma eleição, decidiram comparecer em massa às urnas. Além disso, os trabalhistas teriam sido, em algumas ocasiões, superestimados.

Os institutos parecem ter fracassado, sobretudo, ao traduzir os percentuais de intenção de voto em um número correto de cadeiras. As eleições gerais britânicas são, acima de tudo, a soma de resultados de batalhas individuais em 650 circunscrições.

"A distribuição das cadeiras não foi nosso momento de glória, mas conseguimos fazer um bom trabalho em outros aspectos", avaliou Michelle Harrison, do TNS.

"Previmos as grandes tendências da noite: os nacionalistas escoceses, que arrasaram os trabalhistas na Escócia, e o impacto de cinco anos de coalizão sobre os democratas-liberais", alegou Michelle, em declarações à Skynews.

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