Jornal Estado de Minas

Dilma e Tabaré Vázquez concordam em flexibilizar o Mercosul

A presidente Dilma Rousseff e seu contraparte do Uruguai, Tabaré Vázquez, concordaram nesta quinta-feira sobre a necessidade de replanejar o Mercosul, a fim de conferir maior flexibilidade comercial a seus sócios. A iniciativa pode representar uma mudança histórica no bloco fundado em 1991.





"Não somos sonhadores, nem impacientes. Mas não seríamos sinceros se disséssemos que o Mercosul, como está, nos satisfaz", disse Vázquez em um encontro com a imprensa durante sua visita de Estado.

"Coincidimos em que o Mercosul representa um importante patrimônio comum. Como diz o Vázquez, o Mercosul tem sempre que se adaptar às novas circunstâncias", disse a presidente Dilma.

Brasil, Uruguai e Paraguai - que juntamente com Argentina e Venezuela formam o Mercosul - concordam em buscar uma fórmula que permita acabar com uma das principais limitações do bloco: a impossibilidade de buscar acordos comerciais sem a anuência dos demais sócios.

Vázquez considerou necessário outorgar a seus membros "certas flexibilidades para que, aqueles que desejarem, possam avançar em conjunto com outros parceiros comerciais".

Trata-se de uma mudança fundamental para o Mercosul, defendida por Uruguai e Paraguai e que durante anos se chocou com a reticência de Brasília e com as dificuldades econômicas vividas pela Argentina.





O Brasil tradicionalmente se opõe à negociação de acordos comerciais fora do bloco, mas tem mudado sua postura diante da estagnação econômica e da pressão do empresariado.

Em abril, o FMI previu que o Brasil terá uma contração do PIB de 1% neste ano.

"Velocidades diferentes"

Preocupados com a deterioração do comércio regional, Vázquez e Dilma tentam avançar em um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE).

"A negociação conjunta Mercosul-União Europeia é um objetivo prioritário, longamente planejado, mas que hoje está novamente travado", reclamou o presidente uruguaio em seu discurso.

O acordo, estagnado há mais de 10 anos, é visto pelos dois governos como uma primeira alternativa de abertura comercial para o Mercosul.

A chefe do FMI, Christine Lagarde, que se reuniu com Dilma em Brasília nesta quinta-feira, saudou a possibilidade de acordo entre os dois blocos.





"A presidente Dilma Rousseff e eu tivemos uma boa troca de pontos de vista sobre o estado atual da economia mundial e seu impacto regional, assim como a possibilidade de uma relação comercial mais estreita entre o Mercosul e a União Europeia e os benefícios econômicos que surgiriam disso", comentou Lagarde, citada pela Presidência.

Dilma ressaltou que um acordo com a UE este ano é prioritário e que não é necessário que todos os membros do Mercosul apresentem suas propostas ao mesmo tempo.

"As velocidades diferentes estão previstas internamente em todos os acordos. Elas vão ocorrer dentro da UE e dentro do Mercosul. Cada realidade é uma", afirmou a jornalistas.

A postura de abertura do Brasil tem-se acentuado desde que Dilma assumiu seu segundo mandato, em janeiro. Com um prognóstico difícil para a economia, avalia-se a possibilidade de fechar tratados de livre-comércio com a China, atualmente o principal parceiro comercial, que redobrará seus investimentos no país nos próximos anos, e com o México.

"A política comercial precisa ser uma política mais pragmática (...) O Brasil precisa integrar-se às correntes de comércio, sobretudo em regiões que são mais dinâmicas hoje do que o Mercosul", disse nesta semana à AFP o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro.

audima