Após dez dias de intensas conversas em Bonn, os negociadores sobre o clima encerraram os debates nesta quinta-feira num tom otimista, com a promessa de um "pré-projeto" de texto para a conferência de Paris, pelo menos um mês antes deste encontro decisivo.
"Estas negociações em Bonn foram úteis, nós não saímos com um sentimento de frustração ou decepção", estimou Laurence Tubiana, negociadora para a França.
"Não estamos fazendo marketing", é um caso de "vontade" e confiança, insistiu. "Não sejam tão impacientes, nós vamos chegar lá!", lançou Tubiana, se dizendo "otimista" a seis meses da conferência do clima de Paris (COP 21), que tem por objetivo dar à luz um dezembro o primeiro acordo mundial contra o aquecimento global.
Um "pré-projeto" de texto de negociação para a conferência de Paris deve ficar pronto até outubro, prometeram nesta quinta-feira os dois co-presidentes dos debates.
"As pessoas talvez se perguntem o que nós estamos fazendo nessas duas semanas, e eu sinceramente acho que nós fizemos bastante coisa", argumentou o norte-americano Daniel Reifsnyder, durante uma coletiva de imprensa ao lado de seu colega argelino Ahmed Djoghlaf.
"As partes aceitaram que nós mesmos preparemos um documento de trabalho" tomando como base o texto em discussão, declarou. Na quinta-feira, no final da sessão, os países confiaram aos co-presidentes a tarefa de continuar a trabalhar nesse documento durante o verão (no hemisfério norte, ndlr).
Alinhar o conjunto dos delegados é um elemento-chave para o sucesso de um processo feito a 196 mãos, baseado majoritariamente no consenso, explicou o americano.
As negociações são "um processo que avança passo a passo", ressaltou Christiana Figueres, responsável pelo clima na ONU.
Os delegados dos 196 membros da convenção das Nações Unidas sobre o clima não fizeram mais do que aperfeiçoar minimamente o texto, denso e confuso, produzido durante as negociações de Genebra, sem chegar ao cerne da questão.
"As partes reconheceram que não terminaram o trabalho, já que é impossível reduzir um texto com tantos participantes", explicou Djoghlaf.
Os co-presidentes propuseram aos delegados o envio, em 24 de julho, de uma versão do texto revisada sobre a forma, mas guardando todas as opções de fundo.
As delegações terão em seguida apenas dez dias de negociações oficiais, em setembro e outubro, antes do grande encontro em Paris. Uma extensão do texto poderia ser acordada. "Vocês terão de hoje até o fim de outubro para construir o pré-projeto" tendo em vista a conferência, garantiu Ahmed Djoghlaf.
- Impulso político -
Os países negociam para chegar a um acordo sobre os meios para manter o aquecimento global abaixo dos 2°C relativos ao período anterior à Revolução Industrial. Caso contrário, os especialistas preveem consequências dramáticas (inundações, secas, tempestades, etc.).
Além do trabalho sobre o texto, alguns avanços foram feitos ao longo da cúpula alemã.
É o caso, por exemplo, da questão sobre o apoio às políticas de adaptação ao aquecimento, uma reivindicação muito presente nos países em desenvolvimento já afetados pelo fenômeno climático.
Mas todos os assuntos espinhosos continuam em pauta, especialmente a concretização das promessas financeiras feitas pelos países desenvolvidos - 100 bilhões de dólares por ano até 2020.
O acordo também está ligado aos compromissos nacionais em matéria de redução dos gases de efeito estufa, responsáveis pelo desequilíbrio no clima.
Quarenta e um países publicaram suas contribuições - e é esperado que os outros façam o mesmo até o final de outubro.
Os primeiros cálculos mostram que tais medidas dificilmente colocarão o mundo no caminho dos 2°C. Os países deverão, então, tentar chegar a um consenso sobre os mecanismos que permitem revisar regularmente o aumento da temperatura.
"Não vamos deixar as coisas acontecerem sem agir a partir de agora", garantiu nesta quinta-feira Laurent Fabius, ministro francês das Relações Exteriores e futuro presidente da COP21.
"É preciso que os chefes de estado e governo deem um impulso político", alertou Laurence Tubiana, enquanto uma série de reuniões internacionais estão previstas até dezembro.
Debates a nível ministerial devem ocorrer em Paris em julho e em setembro. A eles, se unem reuniões do Banco Mundial, do FMI e da ONU no segundo semestre, e uma cúpula do G20, quinze dias antes do encontro de Paris.