Jornal Estado de Minas

Atirador que matou nove em igreja nos EUA queria criar "uma guerra racial"

Dylann Roff é formalmente acusado. Governadora pede a pena de morte

Jorge Macedo - especial para o EM

Moradora leva flores a um memorial criado do lado de fora da Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel - Foto: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

Washington – Diante do choque causado pelo massacre realizado em uma igreja na cidade de Charleston, no estado americano da Carolina do Sul, a população busca respostas para entender o que motivou o jovem branco Dylann Roff, de 21 anos, a matar a sangue frio nove membros da comunidade negra local. Um oficial da polícia afirmou ao canal CNN que o jovem declarou aos investigadores que desejava “iniciar uma guerra racial” quando entrou na Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel de Charleston na quarta-feira à noite e abriu fogo em uma aula de estudos da Bíblia. As vítimas tinham entre 26 e 87 anos, incluindo o pastor da igreja Clementa Pinckney, de 41 anos.

A polícia de Charleston anunciou no Twitter que Roof foi acusado formalmente pelo assassinato das nove pessoas e seria levado a uma audiência à tarde. Ele foi acusado pelos assassinatos, além de posse de arma de fogo durante um crime violento. A polícia prendeu Roof durante uma operação rodoviária no estado vizinho da Carolina do Norte, informou o chefe de polícia de Charleston, Gregory Mullen. A governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, afirmou que Roof deve ser condenado à morte se for considerado culpado. A pena capital é legalizada no estado. “É um crime absolutamente racista”, declarou ao canal NBC.
“Queremos incondicionalmente a pena capital. É o pior crime racista que vi e que o país viu em muito tempo”, completou.

O horror do crime e o simbolismo do local onde foi cometido marcaram profundamente o tom do discurso de quinta-feira do presidente Barack Obama, que, visivelmente frustrado, expressou sua tristeza e revolta com o que denunciou como “mortes sem sentido”, ao mesmo tempo que defendeu mais uma vez uma regulamentação maior da venda de armas de fogo nos Estados Unidos.

Em seu perfil no Facebook, Dylann Roof aparece em uma foto com um casaco preto com a estampa da bandeira da África do Sul durante o apartheid, símbolo do segregacionismo, e em outra com a bandeira do ex-regime segregacionista da Rodésia (atual Zimbábue). Sylvia Johnson, parente de uma das vítimas, disse à CNN que uma sobrevivente contou que o atirador falou coisas de teor racista. Uma das vítimas tentou conversar com Roof durante o ataque para evitar mais mortes, mas ele disse ‘não, vocês violentaram nossas mulheres e estão tomando o país. Tenho que fazer o que tenho que fazer’”, relatou.
Descrições conflitantes estão vindo à tona sobre o protagonista do mais recente episódio de violência no país, fortemente abalado por tensões raciais. Roof era calmo e introvertido, um jovem solitário e de fala mansa, diz uma versão. Não, ele era uma bomba prestes a explodir, dominado pelo ódio, um jovem que acreditava na segregação racial. Ele queria matar os negros para gerar outra guerra racial, diz outra versão.

 

Surpresa Um tio de Roof, Carson Cowles, declarou ao Los Angeles Times que a ação violenta de seu sobrinho tomou a todos de surpresa. Segundo Cowles, pediram que ele ligasse a televisão na quinta-feira quando Roof foi identificado por câmeras de vigilância de fora da igreja como o suspeito do tiroteio. “Eu assisti aquilo por 10 minutos, tentando me convencer de que era apenas um pesadelo e que eu precisava acordar”, declarou Cowles ao jornal. “Nenhum de nós viu isso chegando, mas aqui estamos nós, e não há como voltar atrás”, disse Cowles.

Amigos de Roof dizem que ele havia, de fato, falado em matar, contando inclusive quando e onde iria agir. Segundo Christon Scriven, um negro, Roof alertou na semana passada que na quarta-feira – o dia exato do tiroteio – ele queria matar pessoas em uma faculdade local. “Ele nos disse que ia fazer essas coisas”, disse Scriven ao New York Daily News.

“Ele é estranho. Você não sabe quando deve levá-lo a sério e quando não deve”, acrescentou. O colega de quarto de Roof, que vivia na cidade de Lexington – fora da capital do estado Columbia – declarou que ele vinha planejando algo terrível. “Ele era partidário de segregação e outras coisas”, disse Dalton Tyler. “Ele disse que queria começar uma guerra civil. Ele falou que ia fazer algo assim e depois se matar”, contou.

No entanto, Joey Meek, um amigo de infância de Roof, contou que ele possuía amigos negros e não tinha o hábito de depreciar os afro-americanos. “Ele nunca disse a palavra ‘preto’, ele nunca fez insultos raciais, ele nunca tomou como alvo uma pessoa negra específica”, declarou Meek à ABC News. “Ele nunca fez nada disso, então foi um choque”, afirmou.

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