Os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) minaram a antiga cidade de Palmira, no deserto do centro da Síria, aumentando os temores de um desastre para este local inscrito como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Já conhecidos por suas destruições irreparáveis de tesouros arqueológicos no Iraque, os jihadistas podem tirar do mapa a joia do deserto da Síria, e com ele uma parte da história do país. Palmira foi a capital da famosa Rainha Zenóbia, que enfrentou as legiões romanas no século III depois de Cristo.
O local agora está cravado de minas e explosivos, segundo a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), um mês após a conquista de Palmira pelos jihadistas, que expulsaram as tropas leais do presidente Bashar al-Assad.
Mas não ficou claro se a intenção dos jihadistas era ameaçar atacar a cidade antiga para evitar que as forças sírias avancem, ou simplesmente varrer o sítio arqueológico - conhecido por suas colunas romanas retorcidas, seus templos e torres de sepultamento, explicou o OSDH.
Mas uma fonte nos serviços de segurança sírios garantiu que o regime não seria sensível a este tipo de chantagem.
"O exército vai intervir em todas as regiões onde estão os terroristas para expulsá-los, inclusive em Palmira", afirmou a fonte à AFP.
Um oficial do exército conhecido por pôr fim ao bloqueio pelos rebeldes da parte de Aleppo controlada pelo regime, foi encarregado de retomar Palmira, segundo um líder político em Damasco. Isso inclui cuidar da segurança dos campos de gás vizinhos, essenciais para o funcionamento de usinas de energia.
O OSDH informou que o regime sírio havia realizado inúmeros ataques aéreos contra áreas residenciais de Palmira nas últimas 72 horas, deixando pelo menos 11 mortos.
"As forças de Damasco estão do lado de fora da cidade, no oeste, e pediram reforços nos últimos dias, o que sugere que estão preparando uma operação para retomar Palmira", acrescentou o diretor da OSDH, Rami Abdel Rahmane.
- Execuções no teatro antigo -
Esta forma de minar os locais "corresponde à maneira como os terroristas agem quando tomam uma cidade", lembrou a fonte ligada às forças de segurança.
O diretor responsável pelas Antiguidades sírias, Maamoun Abdel Karim, disse neste domingo ter "recebido as primeiras informações de habitantes que confirmam que isso realmente ocorreu". "Eles (o EI) crivaram os templos com minas", declarou à AFP.
"Espero que esta informação não esteja correta, mas nós estamos preocupados", contou, pedindo "aos moradores de Palmira, os chefes das tribos, os religiosos e às pessoas influentes que intervenham para impedir (a repetição, ndlr) o que ocorreu no norte do Iraque".
"Estou muito pessimista, triste", garantiu Abdel Karim.
Em abril, um vídeo divulgado nas redes sociais mostrava os jihadistas do EI destruindo com golpes de tratores e explosivos o sítio arqueológico iraquiano de Nimrod, a relíquia do império assírio fundada no século 13.
Eles já haviam tomado Hatra - cidade do período romano de 2000 anos - e o museu de Mossul, no norte do Iraque.
Nos dez dias que seguiram a tomada de Palmira, o EI executou dentro e fora da cidade mais de 200 pessoas, dentre eles 20 mortos no teatro antigo.
O EI, que se aproveitou da guerra civil que devasta a Síria desde março de 2011 para se implantar do país, controla metade do país, segundo o OSDH.
Além disso, uma pessoa foi morta e três outras ficaram feridas num atentado perpetrado neste domingo por um homem-bomba na cidade curda de Al-Qamishli, nordeste da Síria - segundo a agência de notícias Sana.
"Um terrorista ativou seu cinturão explosivo perto do hotel Hadaya, no centro de Al-Qamishli, matando uma pessoa e ferindo gravemente três outras", informou a agência oficial.
De acordo com o OSDH, tratava-se de um jihadista do EI que teria detonado suas bombas dentro do escritório so Serviço de Segurança curdo.