Os sinos tocaram em Hiroshima às 08H15 local desta quinta-feira (23H15 de quarta em Brasília), exatamente 70 anos após o lançamento da bomba atômica por um bombardeiro americano, no primeiro ataque nuclear da História, que levou o Japão à capitulação e encerrou a Segunda Guerra Mundial.
Em 6 de agosto de 1945, um B-29, denominado Enola Gay, que voava a grande altitude sobre a cidade, lançou uma bomba de urânio, dotada de uma força destrutiva equivalente a 16 quilotoneladas de TNT. O número de mortos é estimado em 140.000, no momento do impacto e posteriormente por efeito da radiação.
Uma jovem e um estudante golpearam o grande sino com uma viga de madeira, na hora exata do bombardeio, em meio ao canto das cigarras e do silêncio da multidão reunida no Parque Monumento da Paz de Hiroshima, cidade de 1,2 milhão de habitantes convertida em símbolo do pacifismo.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e representantes de 100 países estavam entre as 55 mil pessoas que compareceram à cerimônia.
"Como único país golpeado pela arma atômica (...) temos a missão de criar um mundo sem armas nucleares", declarou Abe ao discursar para a multidão. "Temos a responsabilidade de revelar a desumanidade destas armas nucleares, através das gerações e das fronteiras".
O premier revelou que o Japão apresentará este ano na Assembleia Geral da ONU uma nova resolução destinada a abolir as armas nucleares.
O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, qualificou em seu discurso de "mal absoluto" a arma nuclear e exortou o mundo a agir para eliminar as armas nucleares.
"Para coexistir, devemos abolir o mal absoluto e o cúmulo da desumanidade que representam as armas nucleares. Agora é tempo de agir", declarou Matsui.
Três dias depois de Hiroshima, a Força Aérea americana lançou uma bomba de plutônio na cidade portuária de Nagasaki que deixou 74.000 mortos. Estas duas bombas deram um golpe fatal no Japão imperial, que se rendeu em 15 de agosto de 1945, colocando, assim, um ponto final à Segunda Guerra Mundial.
Shinzo Abe depositou uma coroa de flores durante a cerimônia, que foi assistida pela embaixadora dos Estados Unidos no Japão, Caroline Kennedy, e pela subsecretária americana encarregada do controle de armamentos, Rose Gottemoeller, a mais alta funcionária de Washington já enviada ao evento anual em Hiroshima.
O uso da bomba atômica no final da Segunda Guerra Mundial segue provocando polêmica. Alguns historiadores estimam que se evitou um maior número de vítimas em uma guerra terrestre prolongada, mas outros consideram que o Japão estava muito próximo da derrota e que as bombas não eram necessária para acabar com o conflito.
Hoje, 56% dos americanos consideram que os ataques nucleares foram justificados, segundo pesquisa realizada em fevereiro pelo instituto Pew Research Center.
A mesma pesquisa revela que 79% dos japoneses consideram que os ataques não têm justificativa.
Paul Tibbets, piloto do Enola Gay, disse em uma entrevista em 2002, cinco anos de sua morte, que "fez apenas o que deveria".
Washington, estreito aliado de Tóquio depois da guerra, jamais pediu desculpas oficiais por estes bombardeios.