Desde que estourou a crise grega há cinco anos, os analistas alertam sobre o perigo da enorme dívida do Japão que, alheio Às críticas, preferiu uma política de expansão monetária à austeridade imposta na Europa.
A dívida japonesa, próxima do trilhão de ienes (aproximadamente 8,3 trilhões de dólares), representa mais de 200% de seu Produto Interno Bruto (PIB), e supera a de Atenas (170% do PIB).
Diferente da Grécia, que acaba de concluir duras negociações com seus credores para conseguir mais ajuda financeira, o Japão está longe de uma moratória.
O país asiático não deve dinheiro a nenhuma organização mundial e está entre os Estados que mais contribuem com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Mundial.
"O cenário grego é altamente improvável para o Japão", opina Marcel Thieliant, analista da Capital Economics.
A maior diferença entre os dois países é que Tóquio pode apoiar-se em um altíssimo nível de poupança. Mais de 90% da dívida está nas mãos de investidores japoneses, especialmente do Banco do Japão, que lançou em abril de 2014 um extenso programa de compra de ativos, sobretudo de bônus do Estado.
Duas décadas de déficit
"O fato de não pertencer a uma união monetária permite uma margem de manobra muito maior", avaliou Thieliant.
"Ao contrário do Banco do Japão, o Banco de Grécia não pode comprar bônus no mercado secundário enquanto a Grécia continua na zona do euro".
Os pesados investimentos japoneses no exterior também tranquilizam os investidores estrangeiros.
"O valor líquido dos investimentos japoneses chegou a 367 trilhões de ienes no final de 2014 (3,07 trilhões de dólares), o que transforma o Japão no maior investidor mundial (na frente da China) há 24 anos", indica Harumi Taguchi, do IHS.
Apesar do fantasma da deflação, o Japão continua sendo uma poderosa economia -a terceira do planeta-, com um setor bancário forte e uma indústria sólida, segundo Taguchi.
Em 1992, o Japão registrava um superávit orçamentário de sua dívida pública, abaixo de 70% do PIB. Mas 22 anos consecutivos de déficit (1993-2014) levaram sua dívida a um nível inédito nos anais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
As agências de classificação de crédito e várias organizações internacionais consideram inaceitável o nível da dívida e, frequentemente, pedem ao primeiro ministro conservador, Shinzo Abe, que atue para remediar seu aumento.
Desde a sua chegada ao poder no final de 2012, o governo de Abe gastou bilhões de dólares para financiar obras públicas e reativar o consumo.
Uma nova elevação do IVA
A situação do Japão também preocupa pelos elevados gastos sociais que implica o envelhecimento da população.
"Dado o nível sem precedente de sua dívida pública, o Japão pode sofrer uma perda de confiança em relação à viabilidade de suas finanças", advertiu Randall Jones, especialista da OCDE sobre o Japão.
"Um cenário como esse tem grandes repercussões sobre o resto do mundo, dado o tamanho da economia japonesa e sua importante carteira de ativos estrangeiros", acrescentou Jones.
Para conseguir um superávit primário até 2020, uma das metas do governo, "é primordial aumentar o IVA até 10%" (frente aos 8% atuais), considera Jones.
Outros analistas, contudo, consideram que diante das persistentes dificuldades econômicas, a prioridade do governo deve ser a expansão monetária.
"Parece sensato que o governo limite a austeridade", opina Thieliant. "Reduzir o peso da dívida será muito mais simples se houver crescimento, e com ele, inflação.
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