Ao som metálico dos trompetes e com cerimônias solenes, Nova Orleans lembrou neste sábado os 10 anos da passagem devastadora do furacão Katrina, lembrando as vítimas da tragédia e celebrando o renascimento da famosa cidade da Louisiana (sul dos EUA).
Às 08H29 da manhã (10H29 de Brasília), horário em que há uma década o primeiro dique cedeu, as autoridades depositaram coroas de flores no memorial às vítimas do Katrina no bairro do Lower Ninth Ward, um dos mais pobres da cidade, majoritariamente habitado pela comunidade negra e o mais duramente castigado pelas inundações.
Na cidade vizinha de Biloxi, no Mississippi (sul), os sinos dobraram na manhã deste sábado na hora exata em que o furacão chegou à costa americana.
"Embora o furacão Katrina nos tenha colocado de joelhos, não deixamos que esta tempestade nos destruísse", declarou o governador da Louisiana, Bobby Jindal.
Desfiles e shows foram celebrados em pontos diferentes da cidade, envolvida pelo aroma do 'barbecue'.
"Percorremos um longo caminho, mas ainda temos caminho a percorrer", declarou Gwen Truhill, moradora de Ninth Ward.
"É bom ver que as pessoas se reúnem e lembram os fatos. É um pouco agridoce", disse a mulher.
Nova Orleans não se rende
A cerimônia no Charity Hospital da Canal Street foi o ponto alto de uma semana de comemorações que contaram com a visita do presidente Barack Obama e do ex-presidente George W. Bush. Uma homenagem especial foi celebrada em memória das vítimas cujos corpos não foram identificados.
"Nova Orleans será altiva. Ainda estamos de pé depois de 10 anos", disse o prefeito Mitch Landrieu. "Nós nos erguemos e nos ergueremos de novo, mas só poderemos fazê-lo se nos apoiarmos uns nos outros e não deixarmos ninguém para trás", completou.
No total, 1.800 pessoas morreram na costa americana do Golfo, quando o Katrina tocou terra em 29 de agosto de 2005. Um milhão de moradores tiveram que deixar suas casas e estima-se que os danos tenham chegado a 150 bilhões de dólares.
À cerimônia solene seguiram-se desfiles, marchas e festas para encerrar uma semana com tributos, conferências e a visita de Obama.
Obama viajou na quinta-feira para Louisiana (sul), assim como o ex-presidente George W. Bush (2001-2009), muito criticado por sua gestão da crise provocada pelo furacão em 2005.
As casas coloridas sobre pilotis estavam no mesmo lugar onde antes se viam edificações apodrecidas pelas águas paradas depois das inundações.
A música e o cheiro da culinária cajun voltaram a envolver as ruas ruidosas do bairro Francês.
A indústria do turismo explode com nove milhões de visitantes ao ano.
Uma "festa da resiliência" e shows em toda a cidade encantaram moradores e turistas neste dia de homenagens, que terminará com um discurso, à noite, do presidente Bill Clinton (1993-2001).
Mar de miséria
Transformado em furacão de categoria 5 - a mais elevada da escala -, o Katrina atingiu a costa sul dos Estados Unidos em 29 de agosto de 2005. Os diques que protegem Nova Orleans, em parte situada abaixo do nível do mar, cederam e 80% da cidade ficou inundada.
A água subiu tão rápido que muitos moradores morreram afogados. Centenas se refugiaram nos tetos, isolados pela inundação.
Os poucos setores secos da cidade ficaram mergulhados no caos, à medida que dezenas de milhares de pessoas cada vez mais desesperadas pela falta de comida e de água sob um calor sufocante, aguardavam uma ajuda que demorava em chegar.
"Todos os que somos suficientemente maduros para lembrar, nunca esqueceremos as imagens dos nossos compatriotas americanos em um mar de miséria e ruína", disse na sexta-feira o ex-presidente Bush, que saudou a capacidade de recuperação da cidade.
Uma parte importante da população nunca mais voltou. Nova Orleans tem atualmente cem mil moradores a menos do que antes do Katrina e muitos só chegaram à cidade nos últimos anos.
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