Sem um plano de ação conjunto, a resposta descoordenada por parte da União Europeia (UE) coloca em risco a segurança dos refugiados e a preservação do acordo que permite a livre circulação de pessoas dentro das fronteiras do Espaço Schengen – que compreende 26 países europeus, 22 dos quais são membros do bloco. A aplicação de uma resposta comum dos 28 integrantes da UE será o tema central de uma reunião marcada para o dia 14. Sem acordo, o continente segue dividido e polarizado, e não esconde os contrastes de opinião sobre como lidar com a crise e com seus efeitos econômicos, políticos e sociais.
Leia Mais
Problema dos migrantes 'não é europeu, e sim alemão", diz premiê húngaroTusk pede divisão de ao menos 100.000 refugiados entre países da UEMigrantes correm para trens em estação de Budapeste após sua reaberturaFoto de menino afogado comove a Europa e ilustra drama dos migrantesA ministra do Interior da Áustria, Johanna Mikl-Leitner, também criticou o desrespeito aos acordos e acusou a Alemanha de provocar uma onda de pessoas transitando sem documentos pela UE — o que, segundo ela, é efeito do anúncio de que o país não deportará os refugiados que lá chegarem para pedir asilo. “Sempre adverti contra uma suspensão dos acordos de Dublin”, disse a ministra ao jornal Die Presse. “Estamos vendo os efeitos disso agora”, concluiu, fazendo referência aos mais de 2 mil barrados na Hungria.
Mecanismo permanente Pressionada, a chefe do governo alemão, a chanceler Angela Merkel, defendeu uma “distribuição justa” dos refugiados na UE e a oferta de ajuda a pessoas em situação de risco. A Alemanha sozinha deve receber mais de 800 mil refugiados até o fim do ano. “Se a Europa fracassar na crise, a relação com os direitos civis universais será quebrada, ela será destruída”, alertou. O Ministério do Interior da Alemanha discute “um plano ambicioso” de asilo, com a expectativa de que seja aprovado em até dois meses.
Natasha Bertauds, porta-voz da Comissão Europeia (braço executivo da UE), também defendeu um “mecanismo permanente” para dividir equitativamente os refugiados. A ideia é amplamente defendida pelos países que servem como porta de entrada para o continente e há meses alertam para o aumento no fluxo. “Os migrantes não chegam à Grécia, à Itália ou à Hungria. Eles chegam à Europa”, ressaltou o chanceler italiano, Paolo Gentiloni, que pediu mais solidariedade aos vizinhos. Vários governos do bloco, porém, rejeitam a imposição de cotas de imigrantes a serem recebidos em cada país, e argumentam que isso colocaria em risco a estabilidade interna. Em declarações para a rede BBC, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse não acreditar “que a resposta (para a crise) seja receber mais e mais refugiados”.
Dos 4 milhões de pessoas que deixaram a Síria desde o início da guerra civil, em 2011, apenas 216 conseguiram asilo no Reino Unido, de acordo com informação divulgada na semana passada. Apesar de o país ser um dos destinos preferenciais entre os refugiados, o premiê prometeu que o total acolhido em solo britânico não passará de 1 mil. Cameron desponta como um dos maiores opositores a um plano de ação conjunto.
Naufrágio da consciência
A imagem triste e chocante de uma criança que perdeu a vida tentando chegar à Europa se tornou ícone da tragédia que leva milhares de refugiados a se arriscar na travessia do Mediterrâneo em botes improvisados. Milhares compartilharam a foto em redes sociais com a hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (“A humanidade é um fracasso”, em turco). “Alguns dizem que a imagem é muito ofensiva”, escreveu Peter Bouckaert, diretor da Human Rights Watch, em artigo no qual defendeu a decisão de divulgar a foto. “O que eu acho ofensivo é crianças afogadas aparecerem nas nossas praias.” No Twitter, o jornal italiano La Repubblica disse essa é “uma foto para calar o mundo”. Para o espanhol El Periódico, a cena ilustra “o naufrágio da Europa”. A imprensa turca identificou o menino como Aylan Kurdi, de 3 anos. Ele, o irmão e mais 10 pessoas morreram quando o bote no qual viajavam virou em alto-mar..